80's Bits XXXVI

Este mês: digam olá ao pequeno amigo do señor Montana; a expiação de uma minissérie muito curta ou de um telefilme muito longo; um quarteto de cabeludos dinamarqueses com muito combustível e um ninja preso a um ecrã de cristais líquidos.

Filme: ‘Scarface - A Força do Poder’Scarface (1983)

Depois de obter um cartão de residência permanente nos Estados Unidos em troca do assassinato de um funcionário do governo cubano, Tony Montana (Al Pacino) reivindica o controlo do tráfico de drogas em Miami. Assassinando cruelmente qualquer um que se atravesse no seu caminho, Tony acaba por se tornar o maior traficante do estado, controlando quase toda a cocaína que passa pela Flórida. Contudo, o aumento da pressão da polícia, as guerras com os cartéis de droga colombianos e a sua própria paranóia alimentada pelas drogas começam a provocar a sua eventual queda.

O ponto de partida para o desenvolvimento de 'Scarface' deu-se após Al Pacino ver o filme de 1932 do mesmo nome, realizado por Howard Hughes, enquanto estava em Los Angeles. Mais tarde, ele ligou ao seu agente, o produtor Martin Bregman, e informou-o da sua crença no potencial de um remake do filme. Pacino originalmente queria manter o aspecto de peça de época, mas percebeu que devido à sua natureza melodramática seria difícil de concretizar. A primeira escolha para realizador recaiu sobre Sidney Lumet mas diferenças criativas motivaram a sua substituição por Brian de Palma, com Bregman a escolher Oliver Stone, então principalmente um guionista, para escrever o argumento.

Apesar dos bons números de bilheteira, a resposta inicial da crítica a 'Scarface' foi mista, com críticas sobre violência excessiva, linguagem forte e frequente uso gráfico de droga pesada. Alguns expatriados cubanos em Miami opuseram-se à representação do filme de cubanos como criminosos e traficantes de drogas.  Posteriormente, a obra de Brian de Palma recebeu uma reavaliação dos críticos, sendo mesmo considerada por alguns como um dos melhores filmes de máfia de todos os tempos. Referenciado frequentemente na música e cultura pop, recebeu várias adaptações a banda desenhada e videojogos, com destaque para 'Scarface: The World Is Yours' (2006).

Só vi 'Scarface' em idade adulta mas já tinha muitas referências do filme, como a personagem principal Tony Montana ou a célebre citação "Say hello to my little friend". Partindo do facto histórico que foi o "Exôdo de Mariel",  nome dado à emigração em massa de cubanos que partiram do Porto de Mariel para os Estados Unidos entre Abril e Outubro de 1980, o filme agarra o espectador desde a ascensão até à queda do carismático Montana, com boas prestações de Pacino, Steven Bauer e Michelle Pfeiffer e a música composta por Giorgio Moroder.

Minissérie: ‘A Irmandade da Rosa’ - Brotherhood of the Rose (1989)

Saul (Peter Strauss) e Chris (David Morse) são dois órfãos de Filadélfia, no estado da Pensilvânia. Eles são adoptados por um homem misterioso chamado Eliot Grisman (Robert Mitchum), que trata os meninos como seus próprios filhos e acaba por criá-los para se tornarem assassinos profissionais. Quando uma missão corre mal para Saul e Chris, por sua vez, vê-se envolvido num incidente internacional, os dois irmãos começam a questionar as suas próprias vidas e as suas missões, e a olhar para Eliot, a única figura paternal que alguma vez tiveram, sob uma nova luz.

Adaptada por Gy Waldron a partir do romance 'The Brotherhood of the Rose' (1983), da autoria do autor canadiano David Morrell, a minissérie (ou telefilme de duas partes) 'A Irmandade da Rosa' estreou a 22 de Janeiro de 1989 no canal norte-americano NBC, logo após a 23ª edição do Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano. A sua transmissão inicial, beneficiando  do facto de se seguir ao evento desportivo mais esperado do ano, resultou no telefilme de maior audiência da temporada de TV de 1988-89. A primeira parte foi assistida por 32 milhões de telespectadores e a segunda por 27,4 milhões.

Conhecido principalmente por ter escrito 'First Blood' (1972), o romance que deu origem a 'A Fúria do Herói' (1982) e a todos os outros filmes seguintes da saga "Rambo", David Morrell também criou uma trilogia a partir de 'The Brotherhood of the Rose', com 'The Fraternity of the Stone' (1985) e 'The League of Night and Fog' (1987) a seguirem-se ao livro original. A adaptação ao pequeno ecrã, com a realização a cargo de Marvin J. Chomsky, cingiu-se apenas ao primeiro romance e resultou em 240 minutos que a NBC decidiu dividir em duas partes mas que poderia perfeitamente ter acabado numa temporada convencional de oito episódios de meia hora cada.

Em Portugal, 'A Irmandade da Rosa' também foi dividida em duas partes, transmitidas em noites consecutivas na RTP1. A promoção da minissérie entusiasmou-me e decidi que iria gravar a mesma em cassete VHS. Recordo-me de ter visto a primeira parte com o meu pai e ambos gostámos bastante mas a duração da mesma ocupou quase toda a fita da cassete de 180 minutos. Felizmente o videogravador tinha uma função de gravar em LP (Long Play), para além da normal SP (Standard Play), o que permitia estender o tempo de gravação, em detrimento da qualidade de imagem, e foi assim que pude capturar toda segunda parte da interessante minissérie.

Álbum: ‘No Fuel Left for the Pilgrims’ - D-A-D (1989)

Os D-A-D são uma banda de rock dinamarquesa fundada em 1992. Originalmente conhecido como Disneyland After Dark, o quarteto nórdico formado por Jesper Binzer (voz), Jacob Binzer (guitarra), Stig Pedersen (baixo) e Peter Lundholm Jensen (bateria) alterou o seu nome, reduzindo-o à suas iniciais, para evitar uma acção judicial por parte da Walt Disney Company. A mudança de designação deu-se efectivamente em 1989, no preciso momento em que a banda de Copenhaga se começou a internacionalizar através do lançamento do seu terceiro álbum de originais.

'No Fuel Left for the Pilgrims' foi inicialmente distribuído apenas no território dinamarquês mas o sucesso internacional do seu single de estreia 'Sleeping My Day Away' motivou um lançamento além-fronteiras. 'Point of View', 'Jihad' e 'Girl Nation' foram as outras canções do álbum a merecer o estatuto de single mas sem o mesmo sucesso do antecessor. 'Sleeping My Day Away' atingiu as tabelas britânicas, norte-americanas e australianas e o seu videoclipe passou em alta rotação na MTV. Com um som assente numa mistura de hard rock com glam metal, os D-A-D tornar-se-iam a primeira banda dinamarquesa a destacar-se internacionalmente.

'Riskin' It All' (1991) e 'Helpyourselfish' (1995) continuaram a apresentar uns D-A-D (também estilizados por vezes como D:A:D) em boa forma e com críticas favoráveis nos anos seguintes, até ao lançamento do mais experimental 'Simpatico' (1997), que teve uma recepção menos… simpática. No virar do século, o conjunto nórdico registou a sua única alteração da formação original, com Peter Jensen a ser substituído na bateria por Laust Sonne. Desde então, a banda lançou mais seis álbuns de estúdio, um álbum ao vivo e várias compilações, para além de se manter bastante activa  através de concertos e digressões.

Desde o momento em que o meu irmão mais velho trouxe para casa uma cassete com uma cópia de 'No Fuel Left for the Pilgrims', todos ficámos a gostar da banda. 'Sleeping My Day Away' também passava frequentemente na rádio e nos programas de "telediscos" da televisão e tornou-se uma das minhas canções favoritas de hard rock dos anos 80. Mais tarde, o meu irmão do meio comprou a colectânea 'Good Clean Family Entertainment You Can Trust' (1995) e o interesse pela banda cresceu ainda mais. Desta forma, pareceu-me ideal convidar os meus irmãos para um concerto que os D-A-D deram no Campo Pequeno, a par com a banda escocesa Gun, em 2009. Valeu muito a pena.

Videojogo: ‘Ninja Gaiden’ (1988)

Ambientado numa versão retrofuturista de 1999, o jogador controla Ryu Hayabusa, um ninja solitário contratado pelo governo dos Estados Unidos da América. A sua missão é derrotar o culto maligno liderado por Bladedamus, um descendente de Nostradamus que busca cumprir as profecias de fim do mundo do seu antepassado. Depois de infestar as ruas de cidades norte-americanas com criminosos libertados de Alcatraz, Bladedamus sequestrou o Presidente e adquiriu códigos para lançar mísseis balísticos intercontinentais a partir do país e, assim, provocar uma guerra nuclear à escala mundial.

Conhecido no Japão como 'Ninja Ryūkenden' e na Europa como 'Shadow Warriors', 'Ninja Gaiden' é um jogo beat-'em-up de progressão lateral, originalmente lançado pela Tecmo como um título de arcade. Foi distribuído pela primeira vez na América do Norte e na Europa no final de 1988 e depois no Japão em Fevereiro de 1989. O seu sucesso nos salões de jogos levou a que rapidamente fosse adaptado a consolas e a computadores domésticos e foi responsável por iniciar uma saga com mais de uma dezena de títulos lançados, atravessando várias gerações de sistemas.

Criado pelo japonês H. Iijima e desenvolvido pelo seu compatriota Shinobu Iwabayashi, o 'Ninja Gaiden' original apresenta seis níveis e pode ser jogado por dois jogadores. O primeiro jogador controla o ninja com um fato azul (e o segundo com um traje cor-de-laranja) que ataca inimigos usando combinações de socos e pontapés. Também pode usar a sua espada, que é a única arma utilizável do jogo, por um tempo limitado. Como curiosidade, a música apresentada como tema dos inimigos finais do segundo e quinto níveis tem uma grande semelhança com a canção 'Iron Man' dos Black Sabbath. Devido a essa semelhança, a música foi removida em relançamentos mais recentes do jogo.

Um ninja ou shinobi era um agente secreto ou mercenário do Japão feudal especializado em artes de guerra não ortodoxas. Passado tanto tempo, desconheço o que exactamente terá iniciado a "febre ninja" dos anos 80 mas a mesma fez-se sentir através de filmes, livros, brinquedos e, inevitavelmente, videojogos. Curiosamente, o meu primeiro contacto com uma versão de 'Ninja Gaiden' (antes de jogar a versão 'Shadow Warriors' do ZX Spectrum) foi através de um jogo electrónico portátil com ecrã de cristais líquidos, lançado pela Tiger Electronics. Antes da chegada das consolas portáteis, estes eram bastante populares e lembro-me de ter tido alguns, apesar de apenas o nome deste em particular ter ficado na memória.