Filme: ‘A Mosca’ – The Fly (1986)
Quando o excêntrico cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum) completa o seu dispositivo de teletransporte, ele decide testar a eficácia do experimento em si próprio. Sem que o brilhanteinventor se aperceba, uma mosca entra no aparelho durante o processo, levando à fusão do homem com o insecto. Inicialmente, Brundle parece ter passado por um teletransporte bem-sucedido, contudo as células da mosca começam gradualmente a tomar conta do seu corpo. À medida que ele enfrenta uma grotesca metamorfose, a jornalista Veronica "Ronnie" Quaife (Geena Davis), fica horrorizada quando a pessoa que ela amou se transforma numa criatura monstruosa.
No início dos anos 80, o co-produtor Kip Ohman abordou o argumentista Charles Edward Pogue com a ideia de refazer o clássico filme de terror de ficção científica ‘The Fly’, de 1958. Pogue começou por ler o conto de George Langelaan e depois visionou o filme original baseado na obra literária. Decidindo que este era um projecto em que estava interessado, Pogue conversou com o produtor Stuart Cornfeld sobre a criação da produção e este concordou de imediato. A dupla então apresentou a ideia aos executivos da 20th Century Fox e recebeu uma resposta entusiasmada, com Pogue a receber um financiamento inicial para escrever um primeiro rascunho. Faltava encontrar um realizador e a escolha recaiu sobre o canadiano David Cronenberg, que acabou por praticamente reescrever todo o argumento previamente elaborado por Pogue.
'A Mosca' foi aclamada pela crítica, com muitos elogios ao desempenho de Goldblum e aos efeitos especiais da longa-metragem, que acabariam por ser reconhecidos com uma estatueta dourada. Apesar de ser um remake mais sangrento de um clássico feito por um realizador controverso e não convencional, o filme foi um sucesso comercial, o maior da carreira de Cronenberg, e foi a película de maior bilheteira nos Estados Unidos por duas semanas. O público reagiu fortemente aos efeitos gráficos das criaturas e à trágica história de amor de Seth e Ronnie, fazendo com que o filme recebesse muita atenção no momento de seu lançamento.
Em Portugal, ‘A Mosca’ estreou em 1987 e foi o último filme comercial a ser exibido no antigo cinema da minha terra antes de este fechar portas. Lembro-me de ter visto o poster lá fora mas não podia entrar na respectiva sala porque era uma longa-metragem interdita a menores de 18 anos. A classificação era justificada pois, quando finalmente vi o filme por ocasião da estreia em televisão, dois ou três anos depois, tinha várias cenas que me impressionavam. Não era propriamente medo mas o desconforto com algumas imagens explícitas chocantes como quando Brundle parte o braço a um indivíduo enquanto faz “braço-de-ferro” ou o vómito dissolvente da criatura no seu estado final.
Série: ‘Duarte & Cª.’ (1985-1989)
Duarte (Rui Mendes), Tó (António Assunção) e Joaninha (Paula Mora) são o trio que compõe a agência de detectives de nome "Duarte & Cª.”. Duarte é o chefe arrogante e mulherengo (mesmo sendo casado); Tó, o subordinado pachorrento e calmo e Joaninha, a secretária de Duarte e prima de Tó com um trauma com os homens e dotada de uma força tremenda. A dupla de detectives Duarte e Tó e a secretária Joaninha têm como viatura de serviço um Citroën 2CV vermelho e tentam resolver os casos e investigações, porém, tudo o que fazem acaba por falhar por qualquer motivo. A atrapalhar os planos da agência estão vilões da máfia como Lúcifer (Guilherme Filipe), Albertini (Alberto Quaresma), um Japonês (Frederico Cheong), Átila (Luís Vicente), Rocha (António Rocha) e Tino (Constantino Guimarães) e ainda um detective rival chamado Luís (Luís Alberto), que faz de tudo para que "Duarte & Companhia" vá à falência, tentando roubar-lhes os clientes que aparecem.
Após o sucesso da série 'Zé Gato' (1979-1980), o seu criador, produtor e realizador Rogério Ceitil começou a desenvolver o próximo projecto, influenciado por filmes de acção estrangeiros mas também por banda desenhada de cariz cómico. Face a alguma relutância da RTP em aceitar séries de produções independentes, 'Duarte e Cª.' começou por ser cogitado como um filme mas Ceitil, considerando que tinha material mais adequado ao pequeno ecrã, convenceu a televisão pública a aceitar a transmissão da série. Antes do lançamento televisivo, os técnicos da RTP consideravam que a série não iria ter grande êxito devido à forma como era gravada e à pouca qualidade da imagem. Tal como aconteceu com 'Zé Gato', a série não tinha meios de produção (nem da RTP), e o produtor Ceitil também exercia realização. Os fatos para os actores eram alugados e alguns eram mesmo dos próprios. Até para rodar a série, Ceitil tinha que arrendar escritórios e casas.
Estreada a 6 de Dezembro de 1985, 'Duarte & Cª.' foi um sucesso estrondoso e a sua elevada audiência permitiu que se estendesse por cinco temporadas, num total de 39 episódios. Com um estilo próprio de comédia policial, a série começou por ser transmitida semanalmente às sextas-feiras. Posteriormente, devido ao sucesso entre o público infantil, a série passou a ir "para o ar" aos sábados. O elenco contou com vários actores e actrizes que emprestaram os seus nomes verdadeiros às suas personagens e alguns destes eram mesmo técnicos que trabalhavam na RTP e que tiveram oportunidade de entrar na série, tais como António Rocha (Rocha), Constantino Guimarães (Tino) e Frederico Cheong (o japonês que era frequentemente apelidado de "chinês"). À medida que o êxito da série foi aumentando, vários actores consagrados quiserem marcar presença, mesmo que com pequenos papéis, como foi o caso de Ruy de Carvalho, Lídia Franco ou Canto e Castro, entre muitos outros.
As lembranças de 'Duarte & Cª.' são muitas e mesmo se a memória me atraiçoasse no caso das transmissões originais dos anos 80, a RTP tem feito questão de repor a série frequentemente através do seu canal RTP Memória. Lembro-me de acompanhar as peripécias de Duarte e de todas as peculiares personagens na companhia do meu pai e dos meus irmãos, com aqueles efeitos sonoros de socos tirados de filmes de kung-fu ou de disparos de armas a fazer lembrar westerns americanos. Recordo-me que António Assunção, o actor que interpretava Tó (o parceiro de Duarte, sempre com a sua gravata diminuta e frequentemente a ler o jornal 'A Bola'), visitou um dia a minha escola primária e foi uma emoção. Talvez a maior memória da série para mim continue a ser o icónico veículo dos heróis, o referido Citröen 2CV vermelho, cuja produção cessou também no final da década 80, mas que continuou a ver-se nas estradas por cá nos anos seguintes.
Álbum: ‘Running in the Family’ – Level 42 (1987)
Os Level 42 são uma banda britânica fundada em 1979 na ilha de Wight, situada junto à costa do sul de Inglaterra. Formada por Mark King (vocalista e baixista), Mike Lindup (co-vocalista e teclista) e pelos irmãos Phil (bateria) e Howard "Boon" Gould (guitarra), a banda deve o seu nome ao livro de Douglas Adams, 'À Boleia Pela Galáxia' (1979), na qual "42" é a resposta à "derradeira questão da vida, do universo e de tudo". Inicialmente um quarteto instrumental assente numa fusão musical entre o jazz e o funk, os Level 42 foram incentivados pela Elite Records a se dedicarem à música vocal. Tendo considerado recrutar um vocalista, a banda decidiu dar a King e Lindup esse papel. Os dois músicos desenvolveram um estilo complementar, com o falsete de Lindup frequentemente usado para harmonias e refrões, enquanto o tenor profundo de King conduzia os versos. As letras eram geralmente escritas pelos irmãos Gould, enquanto King e Lindup se concentravam nos arranjos musicais.
O homónimo primeiro álbum foi lançado em 1981, motivando uma boa reacção por parte da cena britânica e europeia de jazz-funk que reconheceu a experiência musical e as habilidades performativas dos quatro membros e especialmente do baixista Mark King, que desenvolveu uma técnica apurada de slap, consistindo em bater nas cordas com a parte óssea do polegar. Os Level 42 arrancariam para uma série prolífica de álbuns, lançando praticamente um por ano, em que gradualmente começaram a incorporar elementos pop-rock nas suas canções. O primeiro álbum em que essa sonoridade foi mais evidente chegou em 1985, intitulado 'World Machine', e deu aos britânicos o primeiro single de sucesso nos Estados Unidos. 'Something About You' atingiu o sétimo lugar da Billboard Hot 100 e preparou o terreno para o pico de popularidade da banda que chegaria com o seu próximo trabalho de originais.
'Running in the Family', nome do sétimo álbum de estúdio (e igualmente do segundo single extraído do mesmo) definitivamente colocou os Level 42 sobre a luz do estrelato. A imprensa musical britânica classificou a sonoridade do disco lançado em 1987 como sophisti-pop, um termo criado para caracterizar o uso extensivo de teclados electrónicos, sintetizadores e arranjos sofisticados. Para além da canção que dá nome ao álbum, outros quatro singles foram lançados: 'Lessons in Love'; 'To Be with You Again'; 'It's Over' e 'Children Say', com o primeiro a ser lançado quase um ano antes do LP e a atingir o topo das tabelas em vários países, tornando-se a canção de maior êxito da banda. Ironicamente, o sucesso também trouxe dissabores aos Level 42, uma vez que os irmãos Gould decidiram abandonar a banda pouco depois, citando stress, e a popularidade desta nunca mais foi a mesma. Após um hiato de sete anos, King e Lindup reactivaram a banda em 2001 e a mesma mantém-se no activo desde então.
Nos anos 80, eu e os meus irmãos partilhávamos um gosto musical semelhante, tendo como base o rock e algum pop, não deixando de ter as nossas bandas favoritas. O meu irmão mais velho apreciava os U2, o mano do meio era fã dos Def Leppard e eu gostava... dos Level 42. Não me recordo como começou essa minha particular admiração, até porque lá em casa não tínhamos qualquer álbum da banda em disco ou cassete, mas a verdade é que as músicas que tocavam na rádio e os telediscos que passavam na RTP captavam a minha atenção. Os Level 42 nem eram particularmente uma banda "estilosa" ou com videoclipes elaborados por isso deve ter sido mesmo a música que me cativou. Para efeitos do artigo, escolhi o álbum que agrupa algumas das minhas favoritas ainda hoje como 'Running in the Family', 'Lesson in Love' e 'It's Over'. Já não será seguramente a minha banda preferida no presente mas o primeiro amor (musical) nunca se esquece.
Videojogo: ‘Pinball Action’ (1985)
Pinball é um jogo electromecânico onde o jogador manipula duas ou mais “palhetas” de modo a evitar que uma ou mais bolas de metal (geralmente mais bolas aparecem em "modos missão no jogo") caiam no espaço existente na parte inferior da área de jogo. A bola, quando entra em contacto com certos objectos espalhados pela área de jogo, aumenta a pontuação do jogador. Também conhecidas por flippers, as primeiras máquinas eram mecânicas e ao longo das décadas foram se sofisticando. Na segunda metade dos anos 70, incorporaram importantes avanços, passando a apresentar painéis de pontuação digitais (displays de LEDs), efeitos sonoros e visuais mais interessantes e maior complexidade de jogo. No início dos anos 80, passaram a incorporar voz digital.
Nessa mesma década, os salões de jogos eram uma coqueluche nos centros das grandes cidades, agrupando máquinas de pinball e máquinas de arcade num mesmo espaço. Ciente da popularidade de ambos os tipos de máquina, a empresa japonesa Tehkan (posteriormente conhecida como Tecmo) desenvolveu em 1985 um videojogo de pinball que funcionasse dentro de uma máquina de arcade. Assim nasceu ‘Pinball Action’, um dos primeiros videojogos de um género que continuaria a crescer.
O jogo começa na mesa inicial, com uma icónica figura feminina ao centro, e a partir daí podem ser alcançadas outras três mesas com temas diferentes, cumprindo determinados requisitos. O objectivo é obter a maior pontuação, sendo que o jogo não tem um fim definido, podendo ser jogado por dois jogadores por turnos. Um botão especial é dedicado a agitar a mesa de pinball, que conta com diversos efeitos sonoros programados por Tsukasa Masuko.
‘Pinball Action’ é provavelmente o primeiro jogo que destaco na rubrica sem nunca efectivamente o ter jogado. Se o cheguei a jogar não me recordo mas o que lembro e bem é de ver a máquina arcade com este jogo em vários cafés da minha localidade. A imagem da figura feminina e os sons do jogo ficaram-me na memória pois, mesmo quando ninguém estava a jogar, a demonstração com o clássico “Insert Coin” a piscar passava continuamente para quem a quisesse ver e ouvir.