Filme: ‘This Is Spinal Tap’ (1984)
Composta pelo vocalista David St. Hubbins (Michael McKean), o guitarrista Nigel Tufnel (Christopher Guest) e pelo baterista Derek Smalls (Harry Shearer), a banda inglesa Spın̈al Tap, considerada a formação de rock mais barulhenta do mundo, está prestes a embarcar na sua maior digressão mundial até hoje. Na comitiva está o cineasta e fã norte-americano Marti DiBergi (Rob Reiner), que está lá para fazer uma homenagem aos bastidores da sua banda de heavy metal favorita. No entanto, em vez de celebrar a genialidade dos músicos por trás de clássicos como ‘Big Bottom’ e ‘Hell Hole’, o documentário captura as falhas que começam a surgir no seio da banda britânica após várias peripécias e concertos cancelados à última da hora.
Michael McKean e Christopher Guest conheceram-se enquanto estavam na faculdade em Nova Iorque, no final dos anos 1960, e tocavam juntos. Os dois trabalharam com Harry Shearer e Rob Reiner em um piloto de TV em 1978 para um programa de comédia chamado 'The TV Show', que apresentava uma paródia de banda de rock chamada Spinal Tap. Durante a produção desse sketch (enquanto acidentalmente se queimaram com óleo devido a um efeito no palco), McKean e Guest começaram a improvisar, inventando personagens que se tornaram David St. Hubbins e Nigel Tufnel. Apesar da série de comédia não ter recebido luz verde, estavam lançadas as bases para o futuro "documentário".
O mockumentary, termo que surge da união das palavras inglesas mock (falso) + documentary (documentário), não foi inventado por Rob Reiner ou pelos restantes argumentistas mas 'This Is Spinal Tap' é creditado por ter lançado, efectivamente, o género. 'The Rutles: All You Need Is Cash' (1978) terá sido o pioneiro deste tipo, ao parodiar os Beatles, mas não teve muita expressão. Já a obra de Reiner foi aclamada pela crítica, apesar do seu lançamento comercial ter sido modesto. 'This Is Spinal Tap' não foi comercializado como um "falso documentário", pelo que grande parte do público não sabia que a banda era fictícia e que se tratava de uma sátira aos comportamentos e pretensões musicais de grupos de rock no geral.
'This Is Spinal Tap' não foi lançado oficialmente em Portugal e por essa razão nunca teve uma tradução do seu título. Desta forma, só descobri o filme em adulto e após ler e ouvir várias referências ao mesmo em conteúdos ligados ao rock. Fiquei curioso por ler que figuras da música como Jimmy Page e Robert Plant (Led Zeppelin), Kurt Cobain e Dave Grohl (Nirvana) ou Ozzy Osbourne todas tinham adorado o filme e até se identificado com algumas das rocambolescas situações ilustradas no mesmo. Como apreciador de todo o fenómeno rock e de uma boa sátira, fiquei satisfeito em ter descoberto o filme e anseio pela sequela, que estará a ser rodada por estes dias, com estreia prevista para 2025.
Série: ‘Benny Hill’ - The Benny Hill Show (1955-1989)
Alfred Hawthorne "Benny" Hill foi um comediante, actor e argumentista inglês com uma carreira de mais de 40 anos na área do humor. Nascido em 1924 na cidade de Southampton, Hill teve vários empregos após completar os seus estudos até ser recrutado para servir na Segunda Guerra Mundial. Finalizado o conflito, o jovem Alfred estreou-se em comédia através de um programa de rádio e adoptou como nome artístico "Benny" em homenagem ao seu humorista preferido, o norte-americano Jack Benny. Apesar de ter experimentado também o teatro e o cinema, Benny Hill acabou por encontrar na televisão o meio de comunicação ideal para pôr em prática o seu talento para a comédia.
Após participações em vários projectos televisivos, Hill ganhou o direito de ter o seu próprio programa. 'The Benny Hill Show' estreou em 1955 na BBC, passou anos depois pela ITV e acabou por alcançar o seu maior sucesso através da Thames Television, que o transmitiu de 1969 a 1989. Consistindo maioritariamente em sketches humorísticos de slapstick (uma espécie de comédia física), paródias e piadas de duplos sentidos, os programas variavam entre os 45 e os 60 minutos, dependendo dos números musicais. Escrito por Dave Freeman em conjunto com o próprio Hill, o programa chegou a ser o mais visto do Reino Unido, com mais de 21 milhões de telespectadores.
A versão da Thames Television alavancou ainda mais a popularidade do comediante inglês ao estendê-la internacionalmente. 'The Benny Hill Show' foi vendido num formato de 30 minutos e alcançou grande sucesso um pouco por todo o mundo, incluindo nos Estados Unidos, onde a sua transmissão esteve no ar até 1991. A acompanhar Hill estiveram actores como Jackie Wright (o inesquecível velhote careca a quem Benny freneticamente batia na cabeça), Henry McGee, Bob Todd ou Sue Upton, a mais regular das dançarinas "Hill's Angels". A versão da Thames é notável também pela acelerada perseguição final de cada episódio, que se tornaria numa imagem de marca, ao som da icónica música 'Yakety Sax', de Boots Randolph.
Quando descobri Benny Hill e a sua comédia, este infelizmente já tinha falecido. Foi no mesmo ano, 1992, que Hill partiu e que 'The Benny Hill Show' começou a ser transmitido em Portugal, através da SIC. Ficou na história da televisão lusa como um dos programas que fez parte da grelha inaugural do primeiro canal privado português, sendo transmitido aos sábados à tarde. 'Benny Hill', como era simplesmente chamado o programa em Portugal, conquistou-nos a todos lá em casa e eu até costumava gravar os episódios para rever as partes mais engraçadas vezes sem conta. É um tipo de humor que provavelmente nos dias de hoje não teria tanta aderência mas isso não apaga o brilhantismo de um dos comediantes mais célebres do século passado.
Músicas: ‘Wild Boys’ / ‘A View to a Kill’ – Duran Duran (1984/1985)
Os Duran Duran são uma banda inglesa de pop rock formada em 1978 na cidade de Birmingham. Os seus fundadores foram Stephen Duffy (voz), John Taylor (guitarra/baixo) e Nick Rhodes (teclados) e por altura do seu homónimo álbum de estreia, em 1981, a formação completou-se através da inclusão de Andy Taylor (guitarra principal) e Roger Taylor (bateria), com Simon Le Bon a substituir Duffy como vocalista. O auto-intitulado primeiro trabalho de originais apresentou singles como 'Planet Earth' e 'Girls on Film', este último com um teledisco censurado que ajudou a tornar conhecida a banda. Efectivamente, o investimento em videoclipes tornar-se-ia a partir daí uma estratégia dos Duran Duran para fazer disparar a sua popularidade.
O álbum seguinte, 'Rio' (1982), produziu três singles - 'Hungry Like the Wolf', 'Save a Prayer' e a canção que dá nome ao disco. Todas as faixas foram um grande sucesso e tiveram direito a elaborados videoclipes rodados pelo conceituado realizador australiano Russell Mulcahy em cenários exóticos. 'Seven and the Ragged Tiger' (1983), o terceiro álbum de originais, voltou a trazer três singles ('Union of the Snake', 'New Moon on Monday' e 'The Reflex'), novamente acompanhados de videoclipes em alta rotação na MTV, embora não tão populares quanto os do álbum anterior. Os Duran Duran continuaram com a cadência de gravar um novo disco a cada ano e em 1984 foi lançado 'Arena', um álbum ao vivo com uma canção nova que tornaria um dos maiores êxitos da banda.
'The Wild Boys' foi a única faixa de estúdio presente no alinhamento de 'Arena' e atingiu o segundo lugar na tabela Billboard Hot 100, só batido por 'Like a Virgin', de Madonna. O videoclipe, novamente realizado por Mulcahy, foi um dos mais ambiciosos da banda, com um cenário gigantesco e uma avaria num equipamento quase a provocar a morte acidental de Le Bon. Depois de 'Arena', a banda dividiu-se temporariamente em dois projectos paralelos - 'The Power Station' (John e Andy Taylor) e 'Arcadia' (Le Bon e Rhodes), com Roger Taylor a participar em ambos. O regresso ao trabalho como Duran Duran deu-se com a gravação de 'A View to a Kill', canção principal do filme homónimo de 1985 de James Bond. Foi o primeiro tema de um filme de 007 a atingir o lugar cimeiro das tabelas norte-americanas de vendas.
O auge da popularidade dos Duran Duran na primeira metade dos anos 80, com os seus videoclipes e capas de revistas (como a Bravo), fez suspirar principalmente o público feminino. Lá em casa nunca tivemos qualquer álbum da banda britânica mas a sua música inevitavelmente acabou por se fazer ouvir, fosse pela rádio ou pelos famosos videoclipes. O teledisco de 'The Wild Boys' é o que me traz as mais antigas recordações da banda porque me assustava um pouco, com aquele imaginário do tipo 'Mad Max'. A música ficou-me no ouvido, talvez por se aproximar mais do rock que do pop, com uma batida tribal. A minha outra canção preferida dos Duran Duran é também a minha predilecta de todos os filmes de James Bond. 'A View to a Kill' tornou-se inesquecível para mim ao abrir o alinhamento de uma das cassetes da colectânea 'Jackpot 85' que tínhamos lá em casa.
Videojogo: ‘Emlyn Hughes International Soccer’ (1988)
Emlyn Walter Hughes foi um futebolista inglês nascido em 1947 e que se notabilizou ao serviço do Liverpool e da Selecção Inglesa. Alternando entre a defesa e o meio-campo, Hughes começou a carreira no modesto Blackpool e chegou ao Liverpool em 1967. No clube de Merseyside haveria de ganhar praticamente tudo ao seu alcance, incluindo duas Taças dos Campeões Europeus, duas Taças UEFA, quatro Campeonatos e uma Taça de Inglaterra. Vestiu a camisola dos Reds por 665 vezes, capitaneando a equipa por vários anos até sair em 1979 rumo ao Wolverhampton Wanderers. Ao serviço da "Selecção dos Três Leões" registou 62 internacionalizações, tendo igualmente sido capitão de equipa.
Condecorado com a Ordem do Império Britânico em 1980 e finalizando oficialmente a sua carreira em 1983 no Swansea City, Emlyn Hughes manteve-se ligado ao "desporto-rei" como comentador na BBC. Apesar de já ter deixado os relvados, Hughes continuava uma figura bastante popular do desporto e nesse sentido foi abordado pela Audiogenic Software para dar nome a um jogo de computador. A segunda metade dos anos 80 do século passado foi pródiga em videojogos patrocinados por futebolistas britânicos, especialmente para o ZX Spectrum, com Paul Gascoigne, Gary Lineker, Kenny Dalglish, Peter Beardsley ou até o guarda-redes Peter Shilton todos a terem jogos com o seu nome.
'Emlyn Hughes International Soccer' destacou-se dos demais pela sua qualidade, ao oferecer uma simulação de futebol com uma jogabilidade fluída e do mais realístico que se podia pedir na altura. Programado por Graham Blighe com a contribuição de Michael McLean, o jogo começou por sair em 1988 para o Commodore 64, com versões para Amstrad CPC, Spectrum, Atari ST e Amiga a chegarem ao mercado no ano seguinte. Mais rápido que 'Match Day II' (1987) mas não excessivamente frenético como 'Kick Off' (1989), o videojogo patrocionado por Hughes ganhou de goleada à concorrência e, para além disso, ainda oferecia a possibilidade de apenas ser treinador, orientando a equipa e assistindo aos jogos.
A oferta de videojogos de futebol (jogado e em modo de treinador) foi imensa no tempo do ZX Spectrum mas a quantidade não correspondeu, na sua larga maioria, a qualidade. Se os jogos de manager eram satisfatórios por não exigirem muito da capacidade do microcomputador da Sinclair Research, os títulos em que efectivamente controlávamos os jogadores em campo deixavam muito a desejar. 'Emlyn Hughes International Soccer' foi uma das excepções e o meu jogo preferido do género para o Spectrum. Para além da agradável jogabilidade, também permitia editar as equipas e os jogadores, pelo que lembro-me de alterar tudo para o campeonato português ou até fazer uma equipa com os nomes dos meus amigos com quem jogava à bola na rua.