A Quiet Place Part II — A Mestria do Som no Terror: Parte 2

★★★★☆

Após mais de um ano de adiamentos e entusiasmo geral para a sequela de uma das melhores obras de terror moderno, A Quiet Place Part II finalmente estreia em Portugal, com John Kransinski de regresso como argumentista e realizador.

A Quiet Place Part II traz-nos mais de tudo aquilo que adorámos no original, com detalhes e adições que dão à segunda parte a sua própria identidade, mas que podia muito bem seguir colada à primeira, como se um único filme.

Antes de retomar, a partir dos eventos finais de A Quiet Place, Kransinski transporta-nos para o dia 1 do apocalipse, onde suspende a banda sonora para podermos apreciar pessoas a falar e a viverem naturalmente, em harmonia.

Numa pequena cidade nos Estados Unidos, Lee Abbott (John Kransinski) prepara-se para se reunir com a sua família para assistir a um jogo de basebol do seu filho Marcus (Noah Jupe) quando uma espécie de clarão de fumo e fogo cai do céu, não demorando muito até assistirmos a uma explosão frenética de gritos e chacina que se prolonga deliciosamente por uns valentes minutos.

Esta introdução além de narrativamente inteligente, é impecavelmente executada, com extensos travellings que acompanham as personagens e que abrem o plano, deixando-lhes pouco espaço para escaparem dentro do frame, e abre portas para a utilização minuciosa do som, estabelecendo um paralelo entro o mundo normal e o mundo pós-apocalíptico silencioso.

Após a sequência de abertura, as cores vivas e quentes que iluminaram os planos escurecem e tornam-se frias, com Evelyn (Emily Blunt) e os seus 3 filhos a abandonarem a quinta, no rescaldo do épico confronto com os horripilantes monstros cegos, enfrentando agora o desafio do desconhecido.

Sem recursos e exaustos, rapidamente se colocam numa situação de perigo, com um novo uso criativo do som numa brilhante e aterradora cena que nos deixa com o coração nas mãos, mas que será ocultada para manter o efeito de surpresa ao leitor que não viu o filme. Em perigo, a família de Evelyn é salva por Emmett, interpretado por Cillian Murphy, cujos refundidos aposentos e linguagem corporal revela um homem dominado pelo luto e desespero.

Lá, Regan, a filha de Evelyn, decifra a localização de frequências que surgem recorrentemente na rádio, e decide partir numa jornada para ajudar outras pessoas a defenderem-se contra os monstros que amaldiçoam o mundo, agora que já sabe como os enfrentar.

Esta decisão define o tipo de história de A Quiet Place Part II, que se transforma de um conto de família e sobrevivência para um de crescimento, redenção e heroísmo, com Regan a assumir o assento principal.

Millicent Simmonds (Regan) é grandiosa neste filme (tal como todo o restante elenco) e uma boa escolha para a vanguarda da ação, pois não só é uma personagem bem desenvolvida e adorável, como também a sua condição física permite criar diferentes perspetivas e dinâmicas, com a equipa de som de Erik Aadahl, Ethan Van der Ryn, com Brandon Proctor na mistura, a fazer um brilharete digno de um segundo Óscar — aqui, o trabalho de montagem e mistura de som é de altíssimo nível e um perfeito estudo de caso para estudantes de cinema!

Além do som, da montagem, da excelente e intensa performance de todos os atores, uma componente que merece grande destaque é, sem dúvida, a realização de John Krasinski, detalhada, meticulosa, e deveras impressionante. Krasinski sabe exatamente como criar grandes momentos e em grande escala, mas nunca se esquece de centrar as suas personagens na cena e de colocar a ação a partir da perspetiva das mesmas, que é algo fácil de cair no esquecimento em monster movies.

Há uma tensão constante em cada frame, os jump scares são efetivos e recorrentes, e o filme não se prolonga demasiado nem tenta ser algo que não é — há um sentido de urgência e ansiedade que mantém os riscos em elevados níveis.

A Quiet Place Part II é uma sólida sequela, o que não é tarefa fácil considerando o sucesso do seu antecessor, e alarga o Universo em que as personagens vivem, dedicando um tempo considerável ao desenvolvimento das mesmas. No entanto, e não por culpa sua, como é maldição para a maioria das sequelas, especialmente no terror, não é exatamente um filme groundbreaking para o género, preferindo ampliar o que resultou no original.

Esta abordagem trás vantagens e consequências. Por um lado, e como já mencionado, não arrisca por caminhos que comprometem a mitologia, mas ao tentar ampliar o que resultou previamente, Krasinski acaba por se deixar recorrer muitas vezes a banda sonora para intensificar a ação, e cai em algumas das convenções do cinema de terror a que já estamos tão habituados.

Ainda assim, e para todos os efeitos, A Quiet Place Part II é uma excelente sequela que nos mantém colados ao assento a todos os momentos, e que deixa portas abertas para uma terceira parte.

Segue o trailer de A Quiet Place Part II.