Análise a Cruella ★★★☆☆

Estella, uma rapariga fora do normal que adora moda, luta contra todos os obstáculos para alcançar o seu sonho e recuperar o colar da sua mãe, no entanto, terá que enfrentar o seu ídolo para conseguir o que quer.

Sobre o filme:
Vamos começar por dizer que não parece um filme da Disney, tem cerca de 2h e 10min, e é adequado para audiências acima dos 13 anos, no entanto será melhor para audiências acima dos 15 devido ao seu lado mais psicológico que a maioria dos adolescentes poderá não compreender a 100%.
Este filme é então uma espécie de prequela sobre o passado de Cruella, assim um pouco ao estilo de Maleficent.
Temos que nos lembrar que este filme é sobre uma das personagens mais malvadas da Disney e não sobre os dálmatas, iremos ter alguma participação de animais sim, no entanto os nossos amigos de 4 patas não vão ser de todo o centro das atenções.
Neste filme temos algumas quebras com o que normalmente estamos habituados a ver em filmes da Disney, temos cenas um pouco mais de adultos…como por exemplo cenas que envolvem álcool, manipulação e vingança ou justiça por meios um pouco ortodoxos.
Será um filme para os espectadores que agora são adultos, mas que cresceram a ver as séries e filmes da Disney.
Para quem está à espera de algum romance ou história romântica neste filme, bem pode esperar sentado…é um dos poucos filmes que não tem algo romântico…a única coisa que há é uma leve química entre Estella e Jasper (que é notável logo desde o início).
Glenn Close, a atriz que interpretou Cruella nos filmes de 1996/7, faz parte da equipa de produção para este filme, algo excecional porque ela, ao ter interpretado este papel, consegue sempre ajudar a manter a imagem que o filme está a transmitir…no entanto, por muitas Cruellas que venham a surgir, Glenn será sempre a Cruella que todos adoramos e odiamos com todo o nosso coração, e muito provavelmente a versão mais parecida com a história original.

Versões existentes:
A história de Cruella e dos 101 dálmatas foi iniciada com o livro de Dodie Smith, de 1956 com o nome Os 101 Dálmatas.
Mais tarde tivemos a adaptação desse livro para um filme de animação com o mesmo nome em 1961.
Em 1996 um live-action (com o mesmo nome do livro) e mais tarde uma sequela em 2000 com o nome Os 102 Dálmatas.
Em 1997 temos Os 101 Dálmatas (talvez se lembrem desta série por ter uma galinha que queria ser um cão).
Em 2003 temos uma série animada com o nome Os 101 dálmatas 2.
Mais recentemente, em 2019, temos uma série animada com as aventuras dos pequenos dálmatas com o nome Rua Dálmatas 101, em que nesta série os cães são as gerações seguintes dos dálmatas do livro.
Todas estas versões foram criadas pela Disney…podemos dizer então que esta história já está um pouco gasta…no entanto, como ainda trás algum lucro, a Disney continua a criar mais sobre esta história.
A um nível geral todas as personagens seguem a versão do livro, apenas temos pequenas diferenças que não envolvem os traços fortes das personagens.

Em todas as versões anteriores temos uma Cruella completamente desumana, sem respeito pelos outros, puramente malvada e narcisista, detestava animais e apenas os via como materiais para as suas criações (casacos maioritariamente).
Cruella dos filmes e séries anteriores tem maneirismos que fazem lembrar o Conde Olaf do filme Lemony Snicket: Uma Série de Desgraças (A Series of Unfortunate Events) e Miranda de The Devil Wears Prada.
Na versão de 2021, Cruella não segue o perfil original que conhecemos das versões anteriores.

Análise Narrativa:
Cruella (Estella) é a nossa narradora e é quem nos conta no início um resumo da sua história para nos localizarmos temporalmente e narrativamente.
A nível narrativo não anda nem depressa nem devagar…e estranhamente não senti que o filme tivesse mais de 2h…talvez pelo facto de que os momentos fortes estão espalhados pela totalidade do filme em vez da tensão ir aumentado até que acaba por atingir um clímax.
Temos algumas cenas um pouco previsíveis e outras que não fazem muito sentido existirem ou são muito exageradas ou forçadas (por exemplo a cena do concerto).
Mais uma vez a Disney deu-nos a típica separação trágica entre os progenitores e a criança…já é tradição um dos pais estar morto ou desaparecido ou morrer ou até mesmo haver uma família que adota a criança.
É um filme com uma narrativa simples, sem saltos no tempo ou cruzamentos temporais.

Análise ao Som, Música e Imagem:
A música de fundo foi feita por Nicholas Britell (que fez também as músicas de THE KING em 2019). Neste filme temos o uso de guitarras e baterias com uma versão mais rock, no entanto temos também elementos de jazz…no geral temos uma vibe um pouco negra, misteriosa, com um toque progressivo e por vezes épico.
Temos músicas dos anos 60 e 70 postas por cima das cenas…maioritariamente muito altas em volume e acabamos por ser engolidos pelo mood da música e não tanto pela cena que se está a desenrolar á nossa frente.
Todos sabemos que a música ajuda em muito a dar o mood numa cena…no entanto neste filme abusaram um pouco dessa característica.
Os outfits são bastante interessantes visualmente, inovadores e provocantes…a costume designer Jenny Beavan esteve também encarregue dos outfits nos filmes Dolittle, Sherlock Holmes, Mad Max: Fury Road, Christopher Robin e The Nutcracker and the Four Realms…podemos portante esperar roupas mais radicais assim como elegantes.
A nível de efeitos especiais, este filme usa CGI nos cães e efeitos especiais para fogo, elementos “voadores” e letras que aparecem por cima da imagem…e no geral está tudo bastante bem concebido.
Não temos movimentos de câmara ou enquadramentos inovadores neste filme…os ângulos e movimentos respeitam as normas “clássicas” dos filmes da Disney, no entanto às vezes temos um tremer de câmara que se torna um pouco chato (normalmente isto acontece quando temos um plano aproximado da personagem).
A nível de cor de imagem temos maioritariamente uma cor mais amarela e tons esverdeados…um alto contraste e no geral a luminosidade é muito baixa.
Nos créditos finais temos uma pequena apresentação, ao estilo das apresentações finais de Beauty and the Beast com as personagens e os nomes mais importantes no filme…mas neste caso apenas com Cruella e com efeitos especiais…só depois desta parte temos uma cena extra que nos mostra a origem dos dálmatas que conhecemos, das versões anteriores…o que pode ser uma espécie de gatilho caso a Disney queira lançar uma sequela deste filme.

Personagens:
As grandes estrelas deste filme são Emma Thompson (The Baroness) e Emma Stone (Cruella), ambas já com um grande reportório de filmes.
Todo o cast fez um excelente trabalho, trouxeram vida às personagens e deram-lhes mais intensidade…normalmente quando uma personagem nos traz algum tipo de sentimento em relação a ela conseguimos perceber que a representação está bem feita…mesmo que um desses sentimentos seja ódio…sentimento que muitos espectadores provavelmente tiveram com Umbridge dos filmes Harry Potter…podem então esperar ter este tipo de sentimento de ódio por 2 personagens.
Temos a inclusão de uma personagem que representa a comunidade LGBTQIA+…o que em filmes da Disney não vemos muito…no entanto este filme não é para crianças por isso é normal que tenha algumas características mais “de adultos”…o que é sempre uma aspeto positivo.

Cruella e Estella:
Cruella e Estella são a mesma pessoa, sendo Estella a personalidade mais boazinha e Cruella a personalidade mais malvada…no entanto, sendo Cruella como é psicologicamente, diria que a diferença entre as duas será mais na coragem e ousadia.
Cruella é ousada, corajosa, destemida…no entanto não é cruel como esperamos que ela seja…chegamos mesmo a querer que ela seja mais cruel do que na realidade o filme nos mostra. Cruella deste filme gosta de animais (tanto ao ponto de adotar um cão em pequena), ela preocupa-se também com os seus lacaios (Jasper e Horace), que ela acaba por chamar de família; ela tem misericórdia por outras pessoas e em vez de vingança ela escolhe justiça.
Em oposição temos The Baroness…esta personagem seria a Cruella original, a versão que conhecemos do livro e dos filmes/séries anteriores…implacável, narcisista, sem respeito pelos outros…e desta personagem podemos esperar tudo.

Opinião final:
Cada vez mais a Disney se está a tornar uma empresa para variadas idades, com várias especialidades, talvez esteja a fazer filmes um pouco mais negros, para as audiências que agora estão nos seus 20 e 30 anos, porque essas pessoas cresceram com estas histórias, e ao mesmo tempo, lançam os filmes normais para as audiências mais jovens.
Provavelmente como muitos espectadores, eu também não estava muito entusiasmada com este filme, achei que fosse um filme desnecessário e sem muito para dizer…mas na verdade foi uma agradável surpresa.
Como filme em si, é um bom filme…não respeita muito o original do livro, no entanto temos que nos lembrar que a Cruella que conhecíamos tinha por volta dos seus 40 anos…posto isto ainda há uma margem de 20 anos em que muito pode mudar.
Poderá haver uma sequela, mas não será necessária, porque os live-actions que tivemos no século passado já nos deram essa informação narrativa, como as personagens se conhecem e como acabam juntas.
É um filme que entretém e é uma rajada de ar fresco por sair um pouco do típico filme criado pela Disney.