Análise a “KLAUS” — filme NETFLIX | oitobits.io

A amizade improvável entre um rapaz mimado obrigado a exercer a profissão de carteiro e um artesão que faz brinquedos, contando a história da origem do Pai Natal.

Resumo (com Spoilers):
Jesper, um rapaz mimado, faz o máximo para não ter a profissão de carteiro, profissão esta que lhe estava a ser impingida pelo pai, mas acaba por ser obrigado a ir para uma vila longínqua exercer essa mesma profissão. Ao chegar à vila depara-se com um cenário sombrio, quase como se fosse uma cidade fantasma…no entanto com habitantes…também eles sombrios com fracas capacidades de comunicação. Os habitantes passaram gerações a odiarem-se e Jesper, para poder angariar fundos e sair daquele sítio, tenta convencer as pessoas a enviarem cartas umas ás outras. Numa tentativa um bocado desesperada de fazer uma criança enviar um desenho, encontra Klaus, um artesão que faz brinquedos em madeira. Depois de ver o potencial de Klaus e os ganhos que faria com as cartas, tenta convencê-lo a continuar a dar brinquedos ás crianças…elas só teriam de escrever uma carta a ele a dizer o que queriam. A vila aos poucos foi começando a ser contagiada pelos atos de bondade e começou a unir-se esquecendo as suas diferenças…no entanto os lideres dos dois clãs continuavam presos ás tradições de odio. Tudo corria bem até que Klaus fica sem brinquedos para dar…Klaus conta a razão pela qual fazia os bonecos e todos, numa tentativa de trazer algo de bom, juntam-se para trazer mais alegria à vila…mas como sempre há alguém que tenta estragar a festa. Os líderes dos clãs unem forças para estragar o plano de Jesper, plano este que ele já não levava a sério porque realmente se tinha tornado num verdadeiro carteiro que trazia alegria ás crianças através das cartas que enviava a Klaus. No final, Jesper apercebe-se que encontra naquela vila, a profissão para que é feito, o amor de uma professora e um amigo. Passados alguns anos Klaus desaparece, mas…todos os anos, numa única noite, Jesper continua a poder vê-lo.

Análise:
É um filme de natal com uma lição de moral por trás. Não é um filme forçado como os filmes normais sobre este tema, seja pela “necessidade” de haver uma lição de moral ou pelo toque de magia que tem que estar presente…neste filme o máximo que temos de magia são pequenos remoinhos de folhas e vento inesperado um pouco ao estilo de Pocahontas. O filme arranja maneira de “explicar” as pequenas coisas associadas ao Natal…como o carvão na meia e o trenó voador…de uma maneira inesperada e engraçada. Tem um ritmo constante mantendo a atenção do espectador e o toque de comédia proporcionado por Jesper ajuda ainda mais a agradar o espectador. No entanto as cenas mais emocionais podem fazer chorar. É um filme muito bem conseguido, equilibrado, constante, ritmado, com uma gama de cores e luz única que ajuda a mostrar não só o estado de espírito e emocional das personagens (e a sua evolução a nível interior) como dos locais.

Visual:
Se há coisa em que este filme deve ser destacado é realmente a nível de animação. Foram utilizadas técnicas de sombra para 3D numa animação 2D, possibilitando um degradê de sombras dando efeito de volumetria. Temos vários exemplos de como as tentativas de animação 2D a imitar o 2D antigo não correm muito bem (exatamente pelo uso de computadores e novas tecnologias). Neste filme, para fugir a essa corrente de imitação em 2D e para fugir ao 3D, foi feito um mix para dar um bocadinho dos dois mundos e permitir a criação de algo totalmente novo.

Personagens:
Logo de início este filme trouxe uma vibe de Treasure Planet, Atlantis e um tanto ao quanto com alguns estilos que se assemelham ao estilo de Tim Burton (no que toca à vila e a alguns dos personagens mais sombrios). As personagens têm todas uma personalidade bem definida e é fácil, para o espectador, de perceber como cada uma delas é e o que são capazes de fazer.

Falando sobre a personagem de Jesper…para quem viu Treasure Planet deve encontrar algumas (para não dizer muitas) parecenças de Jesper com o Dr. Delbert Doppler…tanto a nível de traços faciais e estrutura física (tirando o facto de um deles ser uma espécie não humana) como a nível de expressões, reações e tempos de reação, maneirismos, gestos e tiques. Isto é algo que pode ser bom e mau ao mesmo tempo…bom porque realmente a personagem e personalidade de Doppler é muito bem feita e é bom ser reconhecida e possibilitar o sentimento de nostalgia em Jesper…mas ao mesmo tempo estamos a quase associar forçadamente uma personagem que não tem nada a ver em termos históricos…acabando por cortar um bocado o possível mergulho no filme. Outra coisa que reparei nesta personagem foi a atitude de rapaz mimado como Kuzco, mais evidente no início do filme.

Música, score e som:
Como normalmente acontece, temos uma orquestra que toca vários temas Natalícios, no entanto também tem temas sombrios, alegres e divertidos…assim como temas mais emocionais. A nível de foley e ambientes (“exagerados” por se tratar de uma animação), o filme está bastante bom…o espectador sente mesmo o sítio que está a ser representado…com uma boa imaginação, e a ajuda do score, o espectador nem precisaria de imagem para perceber o que se estaria a passar no filme.

Como todos os outros filmes com tema Natalício, este também tem uma lição de moral por trás, e é feito para “aquecer o coração” da pessoa mais fria. É indicado para todas as idades, sendo ótimo para ver no natal devido á sua boa dose de comédia e lição de moral que é tradição neste tipo de filmes Natalícios.