Análise a LOKI — Season 1 (Disney+) ★★★★★

Depois de roubar o Tesseract em Avengers: Endgame, Loki depara-se com agentes do TVA que querem apagar a sua existência da linha sagrada do tempo. Loki terá duas opções, fugir destes agentes ou ajudá-los a encontrar outro variant em fuga.

Sobre a série:
Esta série poderia ser dissecada quase de segundo a segundo e ser analisada ao detalhe…no entanto a maioria de nós apenas quer saber se vale a pena ver esta nova criação da Marvel ou não, posto isto vamos tentar falar mais no geral SEM SPOILERS porque caso contrário teríamos um livro, não sendo esse o objetivo.
Temos então uma série de 6 episódios com 45min cada. Indicada para audiências acima dos 14 visto ter pelo menos uma cena mais gore (que, no entanto, é tratada com muita comédia cortando em muito o choque visual). De género aventura, ficção científica e mistério com uma pitada de comédia — algo que aumenta a probabilidade de agradar a vastas audiências.
A série está repleta de easter eggs e referências a outros filmes ou comics, assim como temos também analogias feitas através do aspeto visual (a nível de cores, luz, cenários e roupa das personagens).
A direção e escrita desta série foi executada por uma equipa que esteve envolvida em filmes da Marvel, no entanto, encontramos também elementos que estiveram envolvidos nas séries Rick e Morty e Sex Education.

Disney e as suas ideias:
Algo que vemos a acontecer, por parte da Disney, é a tentativa exaustiva de justificar e redimir os vilões do seu reportório — primeiro Maleficent, depois Cruella, mais tarde Wanda e agora Loki…embora nos vilões clássicos tenhamos uma tentativa explicar porque são como são (a sua personalidade já está formada devido a traumas do passado e estes não mudam drasticamente, a nossa visão deles é que se torna mais flexível, aceitando-os pelo que são), nas personagens vindas da Marvel (em que as personagens não são apresentadas como “vilões malvados” mas sim personagens extremamente incompreendidas) temos uma estratégia de introspeção e aprendizagem por parte da personagem devido a traumas do passado e do presente, temos assim uma linha temporal mais aberta que tanto pode levar a personagem a realmente se tornar num vilão ou num “herói”.
Sabendo isto podemos esperar por essa tentativa de introspeção e justificação…o que obviamente vai resultar em algo mais emocional, mas como dito acima, não significa que o vilão se torne num herói…porque se pensarmos em WandaVision, o final não nos dá a entender que Wanda esteja a seguir os cominhos mais “heroicos”.
Alguns amantes da Marvel e das suas batalhas épicas podem detestar a série, outros podem até adorar…para os que melhor conhecem os comics talvez nada seja uma surpresa…e para os que não conhecem pode ser algo inesperado…é algo que realmente vai depender do conhecimento prévio de cada um e do gosto pessoal.
Algo que ninguém pode negar é o poder financeiro da Disney e as portas que abre para poder obter variados recursos e poder produzir algo espetacular…e algo que não podemos esquecer é que Disney é, e sempre será, Disney…com a sua magia espalhada aqui e ali que pode tornar tudo um pouco mais suave para agradar a uma maior audiência — não há como fugir a isso.

Análise Narrativa:
Narrativamente, sabendo que falamos em universos alternativos e linhas de tempo alternativas, acabamos por perceber que narrativamente andamos um pouco “aos tombos”…o que por vezes se pode tornar um pouco confuso…no entanto para quem já está habituado aos filmes da Marvel já sabe que este tipo de coisas é normal…no entanto há que ter em conta que esta série é dedicada aos universos alternativos e diferentes linhas de tempo, posto isto é melhor apertarem os cintos.
Algumas vezes podemos ter algumas cenas um pouco a fugir do clímax, quando estamos a caminhar para algo muito espetacular acabamos por ser enganados e achamos que está a fugir ao que estamos habituados a ver em filmes da Marvel.
Esta é a primeira temporada de uma série que terá pelo menos 2 temporadas (estando a segunda já confirmada pelo final que nos foi dado no episódio 6)…no entanto, se o ritmo narrativo se mantiver (com isto quero dizer que tem um ritmo relativamente lento) provavelmente 2 temporadas não serão suficientes para fechar a história…o que poderá justificar a criação de uma nova temporada ou uma nova série que se possa interligar com o final de LOKI…ou quem sabe, talvez até com WandaVision (que nos leva a crer que venha a ter uma continuação narrativa).

Análise ao Som, Música e Imagem:
A nível de músicas de fundo (soundtrack) temos uma inspiração no tic-tac que os relógios fazem, com um toque épico e progressivo, e outras vezes podemos ter também uma vibe mais céltica e negra trazida por instrumentos de cordas…toda a musica de fundo encaixa perfeitamente na cena e reforça ainda mais o estado psicológico das personagens sem ser preciso falas para o transmitir.
A nível de som está bem misturado e bastante original a nível de sons especiais sonoros (SFX).
A nível de imagem, temos uma imagem relativamente escura com poucos brilhos, com tons mais amarelados e esverdeados; relativamente aos cenários, este são pensados ao detalhe e nada parece estar fora do sítio não esquecendo toda a simbologia integrada.
A nível de montagem e movimentos de câmara temos também algumas inovações que encaixam perfeitamente da vibe quase caótica das cenas apresentadas.
A nível de efeitos especiais visuais (VFX) temos algo que está dentro das nossas espectativas em comparação com o que estamos habituados a ver vindo da Marvel e da Disney.

Personagens:
A personagem principal desta série é Loki (Tom Hiddleston)…no entanto temos personagens secundárias bastante ativas na narrativa, como é o exemplo de Mobius (Owen Wilson) e Sylvie (Sophia Di Martino).
He Who Remains e Ravonna Renslayer são as personagens que vão ser puxadas dos comics para o ecrã e que irão trazer muitas questões.
Sendo esta uma série que se destaca das outras pela “falta de lutas” e pelas “conversas à mesa”, temos obrigatoriamente que ter bons atores e boas atrizes. Algo que não esperava que resultasse num duo tão bom é o mix de Tom com Owen…estes dois atores a contracenarem juntos é puro entretenimento.
Para quem conhece a personagem Loki, já sabe o que esperar vindo dele…porém esta série (assim como as novas séries e filmes da Disney sobre vilões) vai dar-nos a conhecer outras facetas desta personagem…podemos perceber então que nesta temporada, o psicológico de Loki vai ser mexido e muito, a ponto de não sermos capazes de perceber o que esta personagem é capaz de fazer ou não.

Opinião final:
É uma boa série para quem gosta do universo Marvel. É uma boa dose de reflecção e introspeção através das personagens.
Temos também uma avalanche de referências vindas de filmes já existentes do universo Marvel, assim como de comics que ainda não tinham sido muito explorados por serem, por assim dizer, uma “side story”.
Para quem tem um conhecimento aprofundado dos comics ficará contente com as referências usadas…no entanto para os que não estão tão familiarizados com os comics poderá tornar-se confuso porque nesta temporada foram levantadas muitas questões ás quais não foram obtidas respostas.
Esta série é, em comparação com outras séries, algo que nos fica na mente…e se isso acontece é um bom sinal…porque significa que, mesmo com alguns erros que tenha havido na sua realização, a série, que é uma obra de arte (porque cinema é uma arte), fez o que devia ter feito, que é trazer emoções e pensamentos.
No geral é uma série que provavelmente vai agradar a muitos…sendo uma série em que “ou se adora ou se odeia”.