Análise a ‘Maria Madalena’

A mais recente obra do realizador australiano Garth Davis, responsável pelo muito bem recebido ‘Lion — A Longa Estrada Para Casa’, apresenta-nos uma nova perspectiva da personagem bíblica de Maria Madalena e do seu papel no acompanhamento e relação com Jesus, os seus apóstolos e alguns dos acontecimentos narrados na Bíblia.

O filme centra-se em Maria (Rooney Mara), uma jovem trabalhadora numa família tradicional de pescadores, que procura na fé a resposta às suas angústias, nomeadamente quando é proposta para casar com um homem recém-viúvo. Pressionada pelos seus irmãos e pai, Maria procura um outro rumo na sua vida e, após receber a visita do apelidado “curandeiro” Jesus de Nazaré (Joaquin Phoenix), a jovem decide juntar-se ao seu movimento social e religioso, que a fará abandonar a sua família e seguir Jesus e os seus apóstolos numa jornada de fé que culminará em Jerusalém.

Sensivelmente antecedendo a chegada da celebração da Páscoa, esta é mais uma das obras de índole biblíca que nos chegam por esta altura do calendário. O que traz, então, este filme de novo? Infelizmente, muito pouco. Apesar de dar o protagonismo e de nos conduzir através da história pelos olhos de Maria Madalena, Garth Davis parece não querer arriscar e joga pelo seguro. O argumento assinado por Helen Edmunson e Philippa Goslett também não auxilia o realizador, proporcionando poucas situações com algo de novo ou surpreendente que já não conheçamos ou tenhamos visto em várias outras obras sobre os últimos dias de vida de Jesus Cristo. Não há aqui um rasgo criativo ou mesmo provocatório tal como vimos em obras do género como ‘A Última Tentação de Cristo’, de Martin Scorsese, ou ‘A Paixão de Cristo’, de Mel Gibson.

Rooney Mara e Joaquin Phoenix ambos apresentam actuações seguras e convincentes mas estão longe do que já protagonizaram ao longo das suas carreiras. Mara carrega o filme nos seus ombros, sem nunca deixar de parecer credível mas, ao mesmo tempo, sem nunca nos conseguir mostrar o carisma da “apóstola dos apóstolos”, epíteto que hoje a Igreja Católica atribui a Maria Madalena. Phoenix mostra-nos uma versão de Jesus de Nazaré pouco enérgica e talvez demasiado relaxada e em que consegue transmitir mais emoção e sentimento através do seu olhar do que propriamente através das linhas de diálogo pouco inspiradoras que lhe foram atribuídas.

Destaca-se o bom trabalho ao nível da Fotografia por parte de Greig Fraser, que elegeu o sul de Itália para representar os belíssimos planos da antiga Judeia que o filme nos apresenta. De elogiar também o contributo seguro dado pela música da dupla islandesa Hildur Guðnadóttir e Jóhann Jóhannsson, tendo este sido o derradeiro trabalho do último, falecido em Fevereiro passado.

Davis realiza um drama biblíco que funciona como uma espécie de olhar biográfico e revisionista da personagem de Maria Madalena, após séculos de controvérsia em que foi questionada a sua relevância e até a sua possível condição como prostituta. A premissa de uma nova e interessante perspectiva dada pelos olhos desta mulher sobre a sua própria importância e de como foi tocada e inspirada pela personalidade de Jesus Cristo de modo a seguir o seu legado falha na sua execução, resultando num filme mediano, com um ritmo por vezes sonolento e sem a inspiração ou emoção que possivelmente ambicionaria transmitir ao espectador.