Análise a ‘Mau Samaritano’

O termo “bom samaritano”, proveniente de uma parábola de origem bíblica, designa qualquer pessoa que se preocupa com os outros, que age sempre a favor do bem, que procura ajudar em qualquer circunstância, sem interesse próprio. O antónimo da designação dá nome ao mais recente filme de Dean Devlin, reconhecido maioritariamente através do seu trabalho como produtor e co-argumentista com Roland Emmerich de sucessos de bilheteira de finais do século passado como Dia da Independência ou Stargate.

Sean Falco (Robert Sheehan) e Derek Sandoval (Carlito Olivero) são dois jovens de Portland que trabalham à noite para um restaurante local ao providenciar serviço de estacionamento aos seus clientes. No entanto, ambos não se limitam a arrumar as viaturas e desenvolvem um esquema paralelo para assaltar as casas dos clientes enquanto estes despreocupadamente jantam. As coisas correm bem até um deles assaltar o cliente errado (David Tennant) e descobrir uma mulher cativa (Kerry Kondon) em sua casa. Receando ser preso, Sean abandona a mulher e devolve o carro no restaurante. Atormentado por remorsos, e contra o conselho de Derek, Sean decide fazer um telefonema anónimo para a Polícia, que não encontra nada quando investiga. Agora, o jovem terá de suportar a ira do raptor, que procura vingança, enquanto tenta desesperadamente actuar como bom samaritano e arranjar maneira de salvar a mulher indefesa que deixou para trás.

O argumento de Brandon Boyce parte de uma premissa não propriamente original mas, ainda assim, interessante. Devlin chega, inicialmente, a prometer agarrar o espectador, alternando entre o clássico thriller e o filme de terror, com os habituais jump scares. No entanto, a obra começa a desapontar-nos a cada momento que passa, com decisões narrativas muito questionáveis, personagens descartáveis ou sem qualquer densidade emocional e caindo nos habituais clichés do género, culminando num desastroso terceiro acto com sequências e diálogos capazes de fazer corar muitos filmes de série B.

David Tennant, na pele do sociopata Cale Erendreich, carrega o filme até onde pode com o seu carisma. Tennant, um actor de reconhecidos créditos, apresentando-nos um vilão credível e misterioso até ao ponto em que o argumento já não o permite mais, tornando a personagem uma caricatura de vilão de filmes de James Bond, pela necessidade absurda de contar o seu plano ao protagonista até à exaustão. O jovem Sheenan não tem uma má actuação mas falta ali qualquer coisa que nos faça “torcer” pelo protagonista, porventura o referido carisma.

‘Mau Samaritano’ é um filme que começa ambicioso, servindo-se mesmo de alguns elementos “hitchcokianos”, mas rapidamente se torna aborrecido, previsível e pouco inteligente, até se desintegrar finalmente nas cinzas da sua própria inspiração. Alfred Hitchcock merecia melhor. E nós também.