Análise a ‘Obi-Wan Kenobi’

★★★★ — A nostalgia falou mais alto numa série em que exploramos uma diferente vertente de uma figura bastante acarinhada pelos fãs de Star Wars. Há momentos épicos que valem ouro mas nem a Força consegue resolver os problemas do storytelling.

‘Obi-Wan Kenobi’ — a personagem não a série — é um dos mais importantes personagens da saga Skywalker. Na trilogia original, é o “feiticeiro Merlin” para Luke Skywalker e na trilogia das prequelas, é uma espécie de “Alex Fergunson” por acidente para Anakin.

Começou como um padawan inexperiente, mas, dadas as circunstâncias da trama de Star Wars, evoluiu para um dos mais sábios mestres Jedi da franquia. O personagem, interpretada originalmente pelo aclamado ator britânico Alec Guiness, ganhou uma nova vida em 1999. quando Ewan McGregor destapou o capuz enquanto Obi-Wan nos primeiros minutos de The Phantom Menace.

Por inúmeros motivos, o filme foi alvo de críticas por parte da imprensa e pelos fãs. No entanto, apenas existiu uma coisa que parece ter escapado a essas vozes dissonantes: Ewan McGregor como Obi-Wan Kenobi.

O Regresso do Rei

18 anos depois de ter gravado o papel do mestre jedi, eis que surge na plataforma da Disney + uma série limitada — uma forma pomposa de chamar mini-série — dedicada ao personagem.

E não foi só o ator escocês que voltou a vestir as robes de Obi-Wan Kenobi. Hayden Christensen também está de regresso para interpretar Anakin Skywalker/Darth Vader. Para muitos fãs das prequelas, este seria o sonho realizado: ter novamente esta dupla de atores num novo projeto de Star Wars.

A expectativa foi crescendo e com o lançamento do primeiro teaser trailer nas redes sociais, os fãs não conseguiam pensar noutra coisa a não ser nesta série. O facto da Star Wars Celebration ter decorrido na semana de estreia na plataforma de streaming. (Podem ouvir o podcast Piado do Pardal para saberem todas as novidades desta convenção)

Personagens novas… só porque sim

Os seis episódios da série foram realizados por Deborah Chow, que já tinha tido oportunidade de mostrar o seu valor em The Mandalorian, um outro projeto de sucesso da Lucasfilm.

O enredo conta uma história situada uma década após os acontecimentos de ‘The Revenge of the Sith’. Obi-Wan está isolado em Tatooine a vigiar um petiz Luke Skywalker enquanto que Darth Vader, juntamente com os seus inquisidores, procuram chacinar os sobreviventes Jedi após a famigerada Ordem 66 do Imperador Palpatine.

E é durante esse fatídico acontecimento que conhecemos uma das novas personagens criadas de propósito para esta série: Reva Sevander. Interpretada por Moses Ingram, a personagem faz parte dos Inquisidores, um grupo destacado para exterminar os Jedi sobreviventes da Ordem 66.

Reva é uma das peças centrais do argumento, no entanto, a forma como está integrada é, à falta de melhor palavras, trapalhona e inconsistente. Reva revela raiva nas suas ações e imaturidade. Há certos elementos na sua personagem que se revelam incongruentes com a história da franquia.

Faço a seguinte ressalva: eu quero personagens novas em franquias como Star Wars, contudo tem que haver bons motivos para tê-las na trama.

O grande problema da série

‘The Volume, o nome que ficou conhecido o grande estúdio com video walls onde foi gravado The Mandalorian, é uma potente ferramenta tecnológica que a Lucasfilm dispõe. Em ‘Obi-Wan Kenobi’, o mesmo foi usado mas, ao contrário da série anterior, aqui conseguimos perceber as limitações técnicas.

Em grandes cenas de ação, com muitos atores e figurantes em cena, transmite uma sensação claustrofóbica. Parece que estamos a presenciar uma produção de baixo custo e, Star Wars como franquia, tem que parecer tudo menos isso.

Reconheço as origens humildes da saga, mas creio que a intenção desde o início é desencadear a imaginação dos seus espetadores.

Porém há momentos inesquecíveis. Praticamente todas as cenas em que Darth Vader e Obi-Wan Kenobi são o foco representam o pico emocional. Arrisco a dizer que, nesse departamento, a série cumpre com distinção o seu propósito e é, na minha opinião, icónica nesse aspeto.

Há também cenas que vão pôr os fãs a coçar a cabeça pela sua duvidosa plausibilidade — principalmente as que envolvem a jovem princesa Leia — mas dou um desconto porque Star Wars, enquanto franquia, sempre teve elementos desse género (recordam-se de Jar Jar Binks? Dos Ewoks? do menino Anakin Skywalker?)

O veredito

‘Obi-Wan Kenobi’ enquanto série cumpriu o seu propósito e tem cenas marcantes estando ao par das longa-metragens da saga. No entanto, há uma certa sensação agridoce com os níveis de produção e com alguns acontecimentos da trama.

Afinal de contas temos o regresso de atores e personagens conhecidos e acarinhados por uma imensidão de fãs. Se havia série que merecia ter um orçamento chorudo seria esta.

Contudo, prefiro olhar para o copo “meio cheio” do que “meio vazio” porque Ewan McGregor e Hayden Christensen voltam a ser felizes nos seus papéis.

É certo que a nostalgia é uma droga perigosa mas creio que existiu uma dose certa entre fan-service e contar uma história relevante que se encaixe dentro da franquia.