‘Pam and Tommy’ é uma mini-série dramática baseada na história verídica de como a gravação do vídeo sexual das super-estrelas Pamela Anderson e Tommy Lee foi divulgada ao grande público. Lily James e Sebastian Stan são os protagonistas e o elenco conta também com a participação de Seth Rogen e Nick Offerman. Neste texto, pretendo analisar os oito episódios desta série como um todo sem revelar spoilers significativos.
Nos dias de hoje, é difícil de explicar à geração Z (pessoas que nasceram entre 1997 e 2012) que o mundo tinha uma outra velocidade nos anos 90. Ouvia-se música em aparelhagens; o método mais rápido de se enviar um documento de forma quase instantânea era através de um fax; aceder à internet era um processo lento e a partilha de filmes era feito principalmente através de cópias de cassetes pirata.
É nesta realidade que ocorreu o primeiro fenómeno viral (mesmo antes de esta designação existir no domínio público) da cassete com teor pornográfico de Pamela Anderson e Tommy Lee. Ela uma estrela em ascensão por causa do seu papel como C.J. Parker na série Baywatch — conhecida em Portugal como Marés Vivas — e ele o baterista dos Motley Crüe, uma das mais bem sucedidas bandas de hard rock norte-americanas que, nos anos 90, lutavam para se manterem relevantes por causa da popularização do grunge e do rock alternativo.
‘Pam & Tommy’ começa por ser uma história de amor louco vivido de forma intenso. Afinal de contas, ambos são figuras públicas à escala mundial. No entanto, ao espetador desta mini-série não lhe é vendido de imediato que Tommy Lee e Pamela são pessoas empáticas.
Tommy é impetuoso, narcisista e extravagante. E estes traços de personalidade são mostrados quando tem um pequeno confronto com os carpinteiros que estão a fazer obras na sua mansão. Um desses carpinteiros é interpretado por Seth Rogen, que revelar-se-ia o responsável pela divulgação da infame cassete.
Apesar de ser conhecido por papéis cómicos, Rogen apresenta-se num registo um pouco mais dramático, contrariamente do que o grande público está habituado. No entanto, a comédia deste ator encaixa no contexto desta série.
A grande transformação
Em termos de interpretação, o ponto mais forte desta série é mesmo a dinâmica de casal entre Sebastian Stan e Lily James. Encarnam Tommy Lee e Pamela Anderson de forma exímia. Um menção especial para o departamento de caracterização que contribui e muito para que espetador se esqueça que estão a ver uma performance de atores e sim estão a ver as celebridades em carne e osso.
Apesar da produção desta mini-série não ter tido a aprovação de Tommy Lee e Pamela Anderson, ‘Pam & Tommy’ mostra um lado cru deste caso e das consequências do mesmo sob as mais variadas vertentes: o impacto psicológico nos protagonistas, o lado judicial e, por fim, a perspetiva pública.
A diferença de género no tratamento deste escândalo é abordado de forma pertinente e faz com que o espetador reflita nestas questões em pleno 2022. Questões essas que ainda não estão plenamente resolvidas na sociedade contemporânea, apesar de ter havido esforços para combater estas desigualdades.
Pam e Tommy afinal… são pessoas
Dito isto, a mini-série cumpre bem o seu propósito: contar a história do roubo da cassete intima do casal — mesmo com os devidos contornos ficcionais — com o objetivo de captar o interesse de um espetador comum.
‘Pam & Tommy’ não cai no erro de tornar os protagonistas como os “bons da fita”. Na realidade, o enredo que é apresentado não dá espaço para essa dualidade redutora. Quer Tommy, quer Pamela, quer o carpinteiro Rand cometem erros e ficam ressentidos pelas opções escolhidas. É algo que pesa nas suas ações.
O caso de divulgação de sextapes não autorizadas é um fenómeno que continua a acontecer nos dias de hoje. Atualmente, ocorrem a uma velocidade vertiginosa e, nesse sentido, o caso de Pamela e Tommy foi apenas o percursor de outros eventos virais como o de Ray J com Kim Kardasahian ou The Fappening.
‘Pam & Tommy’ enquanto mini-série é um pedaço de entretenimento tendo como base esse acontecimento da cultura pop. Não desonra a imagem dos seus protagonistas. Muito pelo contrário. Considero que a sua visualização poderá ser, até, uma porta de entrada para uma discussão mais aprofundada de temas complexos que merecem ser abordados hoje em dia.
Há apenas uma cena, mais concretamente do segundo episódio, que acho que poderia ter sido retirada. Sinceramente, não entendo a sua inclusão e não enriquece em nada a trama. No entanto, o espetador não se irá esquecer tão rapidamente pelo quão descabida que é.
Numa publicação no seu Instagram, Pamela Anderson já prometeu que irá contar a sua versão num futuro documentário produzido pela Netflix. Por isto, esta mini-série será ainda alvo de escrutínio nos próximos tempos.
Os oito episódios de Pam & Tommy estão disponíveis na Disney +.