Análise a Shadow and Bone SEASON 1 (NETFLIX) ★★★★☆

Alina, uma cartógrafa, que pensa ser uma rapariga normal, descobre que possui o poder necessário para destruir o “muro de sombras” que divide Ravka.

Sobre o filme:
Série de 8 episódios com cerca de 45min cada. Apropriado para audiências acima dos 14 anos.
Esta série enquadra-se no género de fantasia, aventura, mistério e ação, no entanto contém alguns elementos de terror, uma pitada de romance e comédia. Hoje em dia os géneros misturam-se, talvez para poder agradar a vastas audiências ou para retratar melhor a realidade, porque nem tudo é “um mar de rosas”, há sempre altos e baixos na vida, e, havendo uma mistura de diferentes géneros damos um toque mais humano à história.
Esta série é uma adaptação do livro Shadow and Bone com inclusão de personagens de Six of Crows; ambos livros de Leigh Bardugo, ambos classificados como livros de fantasia para jovens adultos.
Não iremos fazer uma comparação entre livro e série, no entanto podemos dar alguns detalhes e opinião geral sem ir muito a fundo no livro.

No livro Shadow and Bone temos uma visão mais “afunilada” do que se passa, temos maioritariamente o ponto de vista da personagem principal Alina, enquanto na série é nos mostrado os vários pontos de vista das restantes personagens, o que torna tudo mais interessante e não tão monótono. Na série temos também um lado mais humano presente em todas as personagens, talvez pelo facto de vermos alguns dos monólogos internos das personagens e termos a oportunidade de nos colocarmos na sua posição. Outra coisa que tem acontecido nas séries e filmes da NETFLIX é a inclusão de atores e atrizes de variadas raças e a referência de outras orientações sexuais na narrativa. Temos a incorporação de várias raças nesta série, assim como várias orientações sexuais…o que é um ponto bastante positivo porque nos mostra um pouco como é a realidade.
Temos espiões, vingança, ciúmes, manipulação, racismo, medo, pistolas, truques de magia…um pouco de tudo. Há também um lado mais político em certas ocasiões (ao estilo de filmes de guerra em que acabamos sempre por ter que falar em territórios dominados e a dominar assim como os interesses para obter certo território).

A história passa-se numa espécie de Russia Imperial ficcional, em que humanos e Grishas (humanos com poderes especiais) vivem juntos…no entanto algumas “nações” caçam Grishas porque para eles são considerados bruxos/as, logo são “a face do mal”.
Ravka está dividida em várias nações, com a particularidade de ter uma espécie de “muro” de fumo/nuvens negras a separar o lado Este do Oeste, para piorar, esse mesmo “muro” tem dentro dele criaturas voadoras que matam qualquer um que se atreva a atravessá-lo.
Existem várias categorias de Grishas (Etherialki, Materialki, Corporialki) que se dividem em vários tipos (o primeiro controla os elementos, o segundo a matéria e o terceiro o corpo) …há toda uma variedade no que toca a Grishas…ainda não fomos bem introduzidos a todos os tipos, mas com certeza que iremos conhecer mais na próxima temporada.

Análise Narrativa:
A série começa muito fraca, não muito interessante para ser sincera, no entanto, com o desenrolar da narrativa o espectador fica preso (a partir do episódio 3), e os últimos episódios são bastante interessantes comparados aos primeiros.
É uma série com uma narrativa simples, temos linhas de tempo que se cruzam, porque esta série não está só a contar a história da Alina, mas sim de todas as personagens… Jesper, Inej e Kaz têm a sua linha de tempo que irá chocar com a linha de tempo de Alina. Temos também alguns flashbacks (tanto para contar um pouco a história de Alina e Mal como para contar pedaços da história do General) …estes flashbacks são fáceis de identificar e não deixam o espectador confuso (no entanto os flashbacks de Alina e Mal chegam a tornar-se um pouco repetitivos).
Alina é a nossa narradora principal (é ela que nos apresenta um pouco a sua situação inicial, o estado em que o mundo dela se encontra), com o decorrer da série temos várias vezes Alina a ler o que escreve nas cartas para Mal ou a dar o seu ponto de vista, e o mesmo acontece com Mal.
É um pouco previsível em algumas partes, em contrapartida, o desenrolar do lado psicológico das personagens é extremamente interessante…já para não falar que nesta serie temos outro tipo de alfabeto (podemos ver isto nos livros que aparecem por exemplo no episódio 3).
Nesta temporada parece que temos uma espécie de apresentação de todos os personagens, que provavelmente vão estar presentes nas próximas temporadas, provavelmente teremos mais 2, sendo cada uma delas a busca por um novo animal que trará mais poderes à nossa personagem principal.
Alguns dos acontecimentos da narrativa acontecem um bocado depressa demais…a relação que se desenvolve entre personagens é demasiado rápida por vezes.
Não é uma série que nos faça pensar muito, no entanto uma das personagens (o concelheiro pessoal do rei) disse algo muito acertado…a fé pode mudar tudo para o bem ou para o mal, e ser mais eficaz do que qualquer exército. Isto faz-nos pensar no que acontece no nosso mundo quando alguém se torna obcecado pela sua religião e comete crimes por exemplo…e que a persuasão através do medo pode ser a maneira mais rápida e eficaz de mover países inteiros sem muito esforço e com a possibilidade de ser intemporal passando essa fé de geração em geração.

Análise ao som/música e imagem:
A nível de música, é usada maioritariamente a música de orquestra com voz, com um tom mais épico, estilo folk com um toque fantástico e misterioso. A nível de mistura sonora tudo está dentro dos seus parâmetros…temos efeitos especiais sonoros assim como visuais…o espectador vai ficar contente por saber que estes efeitos todos estão extremamente bem feitos ao ponto de se poder comparar aos efeitos especiais de filmes.
O cenário é de guerra (os tons de cor muito esverdeados, temos também uma luz de um tom mais quente na maior parte do tempo). A imagem é cuidada e trabalhada ao detalhe dando um realismo excecional. Não temos movimentos de câmara inovadores, é-nos apresentado o reportório geral de movimentos básicos e semi-complexos…no entanto temos alguns ângulos de câmara usados que são fenomenais (especialmente quando a ação dentro desse plano decorre em câmara lenta em que nos é mostrado um detalhe recorrendo a efeitos especiais…exemplo disso é o episódio 3 dentro do comboio). O palácio, para quem gosta de arquitetura e cenários com este tema, irá adorar ver todo o detalhe e requinte a partir do episódio 3.
A roupa das personagens é um ponto extremamente positivo, há todo um design específico que distingue as diferentes hierarquias assim como capacidades (tanto humanas como Grishas).

Personagens:
Grande maioria do cast é constituído por atores e atrizes pouco conhecidos no grande ou pequeno ecrã; o ator mais conhecido é talvez Ben Barnes (pelo papel que interpretou em Narnia, como príncipe Caspian). Todo o cast fez um trabalho excelente a interpretar a sua personagem, de salientar os atores Freddy Carter, Amita Suman e Kit Young, por darem uma intensidade extra às personagens que tinham em mãos (Jesper, Inej e Kaz).

Alina:
A nossa personagem principal vinda do livro Shadow and Bone, é uma cartografa, é corajosa e inteligente, é também um pouco ingénua e mostra alguma insegurança. Para quem viu o trailer, sabe que ela será a sun summoner (quem consegue invocar o sol) e ela será a pessoa que poderá destruir o muro de sombras que divide Ravka. Desde o início vemos Alina e Mal sempre juntos desde a infância e conseguimos perceber que há alguma química entre os dois. Alina quer sempre estar perto de Mal porque para ela, ele é o seu melhor amigo.

Mal:
O melhor amigo de Alina, cresceu com ela num orfanato. Corajoso, um bocado precipitado por vazes. Psicologicamente torna-se pouco interessante por não ser complexo…sabemos o que ele quer (acima de tudo estar perto de Alina) mas não temos muita informação…provavelmente vamos ter mais informações nas próximas temporadas e talvez nessa altura comecemos a ver diferentes tons na sua personalidade. Ele tem algum tipo de sentimento por Alina e isso vemos pelo decorrer da narrativa (mas sejamos sinceros…é bem visível que algo se passa ali logo no início da série…ele não a quer deixar sozinha por um segundo. Temos uma espécie de mistério à volta de Mal e a possibilidade de estar ligado aos Grisha (por ouvir sons específicos e por parecer conseguir amplificar os poderes de Alina — tal como o General consegue).

General Kirigan:
Esta personagem é o oposto de Alina (no que toca aos poderes). Podemos vê-lo a usar o seu poder várias vezes, percebemos que ele não tem medo de nada e que faz o que for preciso para obter o que quer; tem um lado obscuro e misterioso…mais tarde vemos como ele ficou daquela maneira e o que o move. Mesmo sendo ele o vilão da história por assim dizer, ele tem um lado humano e no fundo ele só caiu na vingança e não tanto na justiça. Mostra algum interesse por Alina, algo que não chegamos a perceber bem…se é apenas pelo poder dela ou porque começou a sentir alguma empatia por ela, pelo facto de que Alina é a única à altura dele a nível de dilemas e poder (e por isso a pessoa que supostamente o poderá compreender melhor)…não podemos também esquecer o facto de que conseguimos ver alguma espécie de ciúmes em relação a Mal.

The Crows (Jesper, Inej e Kaz):
Estas são parte das personagens que vieram de Six of Crows, tornando assim a nossa série mais dinâmica. Temos Jesper que é perito em pistolas, Inej que é perita em facas e Kaz que é perito em truques de ilusão. São, por assim dizer, caçadores de prémios, ladrões e assassinos…chegamos a ter alguma explicação do seu passado, mas nada comparado às personagens principais. São imprevisíveis e misteriosos…e dão um outro estilo de ação à narrativa, algo com mais acrobacias e detalhes mecânicos (no caso da pistola de Jesper).

Matthias e Nina:
Provavelmente o duo mais interessante desta série, pela ocasião que os juntou, pelas diferentes ideologias, pelos objetivos, pela fé que foi embutida neles pela sociedade. Temos a oportunidade de ver este duo a mudar psicologicamente, algo que se torna bastante interessante (no entanto um pouco rápido)…algo que podemos comparar ao duo principal da história, cuja mudança psicológica ou narrativa não parece mudar durante toda a temporada.

Opinião final:
É uma boa série, tanto para adultos como para adolescentes. Tem em si a combinação de muitos aspetos e características de variados géneros cinematográficos, o que leva a ser apreciada por uma vasta audiência. Não é uma série que faça pensar muito (pelo menos para já), mas é muito boa para entreter e distrair da monotonia diária. A nível de filmes/séries, falando agora no impacto que têm numa geração e o quanto marcam a história do cinema/séries de televisão, diria que esta série está ao mesmo nível de “The Hunger Games” e Narnia…o que é muito estranho porque são ambos filmes, no entanto esta série parece ter mais impacto do que uma simples série costuma ter…talvez pela história, talvez pelas parecenças com alguns filmes já existentes, talvez pela maneira como foi gravada, todo o trabalho envolvido na criação deste mundo, cenários, roupas e efeitos especiais.
Para quem gostou desta primeira temporada, quase de certeza que irá gostar das próximas (se mantiverem a mesma qualidade obviamente).