Análise a ‘Sibéria’

Keanu Reeves é o protagonista, um dos produtores e o grande chamariz deste Sibéria, realizado pelo relativamente desconhecido Matthew Ross. O pouco experiente cineasta nova-iorquino assina aqui apenas a sua segunda longa-metragem após a estreia com o algo despercebido Frank & Lola, de 2016, que não chegou às salas de cinema portuguesas.

Lucas Hill (Reeves) é um comerciante americano de diamantes que viaja até São Petersburgo com o intuito de vender uns raros exemplares de cor azul e origem duvidosa. O súbito e misterioso desaparecimento do seu parceiro, dos diamantes e o consequente colapso do perigoso negócio com o poderoso gangster russo Boris Volkov (Pasha D. Lychnikoff) leva Hill até à vila mineira de Mirny, em plena Sibéria. É lá que o americano deverá encontrar respostas, ao mesmo tempo que se envolve romanticamente com Katya (Ana Ularu), a proprietária de um pequeno café local.

A oportunidade de voltar a ver Keanu Reeves como estrela de filmes de acção, terreno onde o actor norte-americano indubitavelmente se insere melhor, principalmente depois do bem-sucedido John Wick, de 2014, e da sua sequela, é aqui completamente desperdiçada. Tal também não parece ser a intenção do realizador, que opta pelos caminhos duvidosos de um thriller romântico, por muito estranho que soem estas duas palavras juntas. Mesmo com a sua vida em risco, em contra-relógio e sem soluções à vista, Hill parece confortável e tranquilo em aproveitar a sua estadia na Sibéria, alternando entre as idas ao café e as cenas de sexo com Katya. Sim, é tão ridículo quanto parece.

O pobre argumento de Scott B. Smith a partir de uma estória de Stephen Hamel reflecte-se também no pouco desenvolvimento de algumas personagens. O vilão apresenta todas as características estereotipadas de um mafioso russo e o actor que o encarna pouco faz para o contrariar. A química entre as personagens de Reeves e Ularu parece um pouco forçada, apesar do esforço da actriz romena em que resulte. Já o próprio Keanu Reeves, em torno do qual todo o filme compreensivelmente assenta, apresenta-se na maior parte das cenas em “piloto automático”. Sejamos justos, Reeves é competente e carismático quanto baste como protagonista mas não é um actor que empreste uma grande dimensão emocional às suas personagens e este é, mais uma vez, um desses casos.

‘Sibéria’ é um filme desastroso, em que o espectador cedo perde o interesse e a esperança que o tom e o ritmo sonolento do mesmo venham a alterar-se, após a inclusão de variadas cenas supérfluas e aborrecidas. No terceiro acto as coisas sofrem uma ligeira alteração mas já tarde demais para levar o filme a sério, seja pela desinteressante dinâmica entre personagens como pela falta de credibilidade e coerência das escolhas narrativas do argumento.