Análise a Swallow | oitobits.io

Sinopse:
Hunter, recentemente grávida depara-se com os seus comportamentos obsessivos compulsivos que consistem a engolir objetos de todo o tipo. A sua família acaba por descobrir e tenciona fazer algo sobre o assunto para proteger o bebé.

Sobre o filme:
 Thriller psicológico com uma boa dose de drama …retrata uma realidade de problemas psicológicos, abuso emocional e psicológico, automutilação (neste caso a ingestão de objetos) e comportamentos obsessivos compulsivos.
 Para audiências acima dos 16 anos devido ao peso psicológico apresentado na narrativa e algumas cenas com conteúdos sexuais e gore (embora ambas muito leves).
 Tem uma narrativa clássica (simples) sem recorrer a flashbacks ou outro tipo de saltos temporais ou narrativas intercaladas.
 É um filme com uma ideia simples a transmitir, com foco na personagem principal…tudo o que se passa à sua volta e na sua mente…é um filme que acaba por chamar à atenção sobre os problemas psicológicos que muitas vezes podem ter causas ambientais (o espaço e relações) ou hereditárias. Não sabemos ao certo como este comportamento obsessivo compulsivo se gerou (onde é que começou a obsessão por engolir objetos)…no entanto vemos que é algo sistemático e que com o tempo vai se tornando mais perigoso.

Imagem e música:
 A música minimalista, progressiva e sinistra…feita recorrendo ao uso de orquestra em que há predominância de instrumentos de cordas (violino e piano)…muito frequentemente as musicas têm efeitos sonoros que nos fazem sentir a pressão do ambiente físico e psicológico em que a personagem se encontra.
 Há um cuidado com a imagem e enquadramento digno de filme de festival, luz suave, ritmo lento, mas consistente nos acontecimentos que vão decorrendo ao longo do filme.
 Neste filme há a utilização de um travelling um pouco contraditório ao resto dos planos estáticos do resto do filme…é uma técnica de movimento de câmara que talvez tenha sido usado para reforçar mais a adrenalina que percorria a personagem naquela altura.
 Não é um filme com muitas falas…tem muitos momentos de tensão e é muito explicativo pelos enquadramentos, movimentos de câmara e expressões.
 As cores predominantes neste filme são muito suaves, nada está demasiado claro ou demasiado escuro, está tudo pensado ao detalhe…as cores predominantes são os beges e patéis que lhe dão uma suavidade única.
 Para um filme deste tipo iria esperar-se haver um uso de temperatura de cor mais fria, no entanto não é o caso…está muito equilibrado, na maioria dos planos é exatamente o contrário do esperado, acabando por ter um tom mais quente.
 O filme acaba com o cenário do wc feminino de um shopping….o que nos faz pensar em quantas mulheres passam ou passaram pelo mesmo que Hunter passou…e este é o modo como o filme termina…sem o típico ecrã preto com letras brancas a que estamos acostumados.

Personagens:
Os atores e atrizes foram muito bem escolhidos, embora tenha um cast relativamente pequeno e focado em 1 personagem, estas personalidades encaixam perfeitamente no papel, a sua interpretação é excelente, dão a vontade de muitas vezes gritar de volta para as personagens.

Hunter:
 Personagem principal feminina com a qual vamos passar quase todo o filme, é com ela que vamos pouco a pouco percebendo o que se passa diariamente e os mecanismos que arranja para lidar com a sua situação. Hunter é perfeccionista, e tenta ser a esposa perfeita, vivendo quase exclusivamente para Richie…no entanto ela sente-se ignorada a maior parte do tempo pelas pessoas que a rodeiam e sente que não é boa o suficiente e que tem que fazer algo inesperado para poder receber a validação dos outros e dela mesma…sente-se ao mesmo tempo sem identidade própria, sem um propósito. Percebemos que Hunter não é de todo como mostra ser…quando está sozinha é muito mais relaxada e não mostra uma rigidez (coisa que é forçada a fazer quando acompanhada pelo marido e a sua família). Não sabemos muito sobre o passado e família de Hunter no inicio…mas aos poucos vamos descobrindo e vamos começando a associar certos comportamentos com pequenas coisas do seu passado e do seu presente.

Richie:
 Marido de Hunter…o típico menino rico e mimado que acha que pode fazer tudo o que lhe apetece por ter dinheiro…no entanto esta demonstração de poder é feita através de comportamentos manipulativos, negligentes e violentos, verbalmente e psicologicamente perante a mulher. É uma personagem que vai mostrando as suas verdadeiras cores aos poucos, no entanto bastante cedo. Estes traços psicológicos e comportamentais vieram dos seus pais, que muitas vezes aparecem “metidos na vida” do filho.

Ideia geral do filme:
 O filme retrata a luta psicológica de Hunter, numa aceitação da sua existência e dos seus problemas psicológicos. A personagem, com a qual algumas pessoas se podem identificar, passa por experiencias traumáticas e tenta perceber de onde vem o seu problema…há toda uma dimensão psicológica que é abordada de uma maneira muito fluida e leve…vamos aprendendo como a doença dela se manifesta, a razão porque se manifesta, de onde veio essa doença e como ela pode ficar melhor. Todo o filme está feito de uma maneira muito delicada, porque o tema também é delicado. Não é um filme que vai meter medo, ou assustar os espectadores, mas certamente irá levantar questões e aos espectadores que se identifiquem com Hunter pode fazer chorar…no entanto acaba por ser um filme um tanto educativo sobre o tema, para quem goste de psicologia irá de certeza adorar este filme.