Criado e produzido por Christopher Storer com a chancela da FX, a trama centra-se em Carmen Berzatto — interpretado por Jeremy Allen White — um jovem chef que herda um restaurante do seu irmão, com o intuito de o transformar num local mais apelativo e mais rentável.

Contudo o percurso é algo sinuoso, pois o verdadeiro desafio, para além de superar as adversidades que possam surgir na cozinha, consiste em manter o rumo da sua equipa que está repleta de pessoas com personalidades bastante distintas.

O sumo desta série está aqui: as dinâmicas dos diferentes elementos da equipa de Berzatto dentro e fora do contexto laboral. O restaurante não é um lugar requintado . É apenas, maioritariamente, um ponto de encontro para as classes operárias de Chicago desgustarem sandes de carne de vaca.

Confesso que quando vi o nome de ‘The Bear’ para esta série, jamais pensaria que estaria ligada ao mundo da restauração. No entanto, ao longo dos oito episódios da primeira temporada, o espetador será presenteado com algumas sugestões para que possa interpretar à sua maneira o seu título. Contudo há uma resposta clara relativamente ao seu significado no derradeiro episódio.

“O segredo está na massa”

O ponto forte desta série é que exibe um lado menos romantizado do mundo da restauração. Mostra o clima de tensão que é gerado por imprevistos ou por desleixos por parte da equipa que Carmen Berzatto lidera.

Para além do protagonista, existem dois personagens que o argumento sustenta. Richard Jerimovich, o gerente impulsivo e melhor amigo de Carmen, e Sydney Adamu, uma inexperiente chef mas repleta de novas ideias. São interpretadas por Ebon Moss-Bachrach e Ayo Edebiri respetivamente e representam os alicerces para os momentos marcantes desta série.

Não é que os restantes elementos sejam esquecíveis. Longe disso. Arrisco a dizer que o elenco escolhido para dar vida a esta equipa é, sem dúvida, dos mais carismáticos. Tal como as relações sociais na vida real, ninguém é perfeito e cada um tem as suas qualidades e defeitos.

Aliado às interpretações e diálogos, ‘The Bear’ brilha na sua cinematografia, montagem e banda sonora que, em uníssono, condimentam o ‘storytelling’. O uso de certos temas musicais de bandas como Radiohead, John Mayer, Pearl Jam e Genesis dão uma nova dimensão à história contada nesta primeira temporada.

O urso que há em nós

Em termos simbólicos, o urso pode representar força, família, vitalidade e coragem e, a série ‘The Bear’ manifesta isso mesmo. O luto do personagem interpretado por Jeremy Allen White pelo irmão é explorado em alguns momentos. Vemos também a forma como o mesmo pode ser transplantado para situações do dia-a-dia, mesmo que o presente seja algo incerto e angustiante.

Existiram poucas séries que conseguiram agarrar-me pela sua premissa tão simples e com um elenco de personagens tão forte. Se há série que vai comparecer no melhor de 2022, é esta. É uma montanha russa de emoções humanas sem transparecer forçada nem fictícia em algum momento.

A primeira temporada está disponível na Disney+, sendo que a segunda foi anunciada em julho deste ano. Ainda não tem data de estreia mas espera-se que seja lançada em 2023.