Análise a To All The Boys: Always and Forever (NETFLIX) ★★★☆☆

Lara Jean depara-se agora com a possibilidade de vir a ter um relacionamento à distância.

Sobre o Filme:
Este é o terceiro filme da trilogia To All The Boys, baseado nos livros, com o mesmo nome, de Jenny Han.
Romance com uma pequena dose de comédia, uma ficção mais realista dos pequenos problemas que podem ocorrer numa relação entre dois adolescentes.
A trilogia é indicada para espectadores acima dos 12 anos, tendo cada filme cerca de 1 hora e 30/40min.
Dirigido por Michael Fimognari que também esteve encarregue da cinematografia…surpreendentemente é conhecido por filmes de terror/triller/mistério como Doctor Sleep.
Sendo supostamente este o último filme, iremos falar/analisar também um pouco dos filmes anteriores — posto isto será evidente que haja alguns spoilers.

Primeiro filme:
Neste filme temos a versão “antes do namoro”…o que normalmente se vê mais nos romances (tanto em livros como em cinema). É um romance…o típico romance…embora mais realista do que a maioria dos romances para adolescentes, continua a ser bastante ficcional e com uma boa dose de comédia (sem ser forçada).
Lara Jean é sempre a nossa narradora que nos vai dar a sua própria visão das coisas…ela cria na sua mente uma espécie de conversa com os rapazes a quem escreveu as cartas, um pouco ao estilo de “anjo e diabo” que aparecem nos ombros…uma ilusão que torna a cena um pouco mais dinâmica.
Lara Jean mostra ser uma rapariga muito “no mundo do conto de fadas” … e completamente inconsciente das suas ações…ela prefere esconder e não enfrentar os seus “problemas”.
Mais uma vez a “conveniência narrativa” que nos leva ao clímax dramático do filme…normalmente isto acontece a cerca de 20min do fim do filme, momento em que tudo se desenrola rapidamente.
No final vemos o John Ambrose a aparecer à porta de Lara Jean com a carta na mão.
Sendo isto um final aberto, o espectador sabe que haverá um segundo filme.

Segundo filme:
Vamos começar por dizer que o John Ambrose não é a mesma pessoa que no filme anterior…e a maneira como nos mostram o contacto entre ele e Lara Jean não é igual. Isto leva a pensar que normalmente a NETFLIX não faz trilogias inteiras…vai apenas fazendo filmes…caso tenham lucro, então fazem um segundo filme…o que faz sentido a nível financeiro…até se entende que queiram ter uma pessoa mais famosa para chamar ainda mais audiências…no entanto continua a ser uma tática muito virada para o consumismo e não tanto algo feito “pelo amor à camisola”.
Neste filme temos a versão “depois do beijo” … onde começamos a ver alguns dos desafios que uma relação pode ter.
As nossas personagens não parecem ter aprendido nada no filme anterior…Lara Jean continua a esconder coisas, a não enfrentar os problemas.
Este filme tem um grande foco nas espectativas que uma pessoa cria quando está numa relação. Temos também uma versão mais realista sobre as relações e como as coisas às vezes não correm como planeado, sendo esta versão dada por uma senhora de idade que Lara Jean conhece no lar para o qual irá trabalhar…esta personagem será o balde de água fria e a chapada de luva branca que Lara Jean precisa. Algo interessante neste filme é a capacidade de nos mostrarem outro tipo de conceções que as personagens têm…porque na vida real há uma variedade de conceções…e verdade seja dita…em romances o que vemos mais é o namoro e a amizade…muito preto no branco…e este filme vem mostrar outras variedades de conceções (algumas até um pouco “agridoces”).
Temos uma pequena parte que mais parece um videoclip…é um pouco inesperada e um pouco fora de contexto no sentido que não é necessária…mas ao mesmo tempo é algo diferente que não se vê todos os dias.
Lara Jean continua a dar a sensação de que qualquer um dos rapazes pelos quais ela teve um fraquinho serve para ela…aqui ela já tem Peter como namorado, mas parece que o esquece mal John Ambrose aparece na sua vida.
Algo que acontece na realidade e que aqui retratam bem são os sentimentos confusos que um adolescente pode ter no que toca ao amor…o não ter a certeza se é amor ou não…e como descobrir que é realmente amor.
É uma versão mais realista e com menos comédia (em comparação ao filme anterior).

Terceiro filme:
Começamos na coreia…com música pop coreana e um famoso café que parece tirado de uma banda desenhada…é uma ideia bastante interessante visualmente porque as viagens e distâncias serão representadas graficamente com mapas e desenhos…temos assim uma espécie de ligação em representação visual. 
Neste filme falamos sobre relações à distancia e as dificuldades…temos um tom mais sério e comédia quase inexistente.
Novamente temos uma Lara Jean a esconder coisas…em 3 anos ela já deveria ter aprendido que não deve esconder coisas…mas verdade seja dita…se ela não esconder o filme acaba em 30min…vamos dar um desconto…
É um filme que “toca nas feridas”…temos aqui a ideia pré-concebida que todos os casais se separam ao irem para a universidade…temos também a ligação entre o passado e o presente…os traumas de infância e adolescência que acabam por afetar a relação. A frase que melhor descreve a mensagem que o filme está a tentar passar é: “if you love somebody you try to do everything you can”.

Análise Narrativa:
Em todos os filmes temos uma narrativa simples, com a presença de flashbacks (mais no primeiro filme e segundo filmes). Todos os filmes são um pouco previsíveis nos seus acontecimentos…Lara Jean e Peter decidem acabar o relacionamento que têm em cada filme…coisa que começa a ser previsível e nos leva a dizer internamente “e aqui vamos nós outra vez”.
É o típico romance de adolescentes…não podemos esperar muito por aí além.

Análise ao Som, Música e Imagem:
Os três filmes são muito consistentes a nível de imagem e música…não vemos nenhuma diferença, na maneira como nos apresentam a narrativa, tanto visualmente como sonoramente.
Como é de esperar temos um reportório musical muito virado para o Pop, K-Pop, Indie e por vezes algumas músicas mais “vintage” que vêm representar os tempos dos pais de Lara Jean. É um filme muito silencioso a nível de música de fundo.
A nível de imagem, temos aqui um cuidado especial em manter tudo visualmente perfeito, temos uma luminosidade baixa, com grande saturação e um tom de cor mais quente a virar para o amarelo esverdeado.
No final temos uma espécie de recapitulação de cenas dos filmes anteriores para nos mostrar os atores e atrizes dos filmes…e só depois temos os créditos finais branco no preto.

Personagens:
É dos poucos filmes que mostra a personagem principal sendo uma pessoa que não faz o papel de vítima…hoje em dia já vemos mais filmes e séries assim, mas antigamente a personagem principal era maioritariamente a vitima de tudo…quase como se a personagem fosse perfeita e todos à sua volta fossem “os maus da fita”…esta é uma boa estratégia para tornar a história mais realista, porque ninguém é perfeito, e o facto de que vemos a personagem principal mudar comportamentos torna-a mais humana e fidedigna por assim dizer.
Neste filme tivemos um foco mais sob Lara Jean e Peter, ao ponto de todos os outros rapazes na vida de Lara Jean, que estávamos habituados a ver, desaparecem completamente como por magia.
A nível de representação não há nada a apontar; todos o cast fez um excelente trabalho.

Lara Jean:
Lara Jean continua a ser a adolescente introvertida, apaixonada por contos de fadas…e surpreendentemente continua a esconder coisas (não aprendeu nada nos filmes anteriores pelos vistos)…continua a ser desarrumada e por alguma razão parece ter problemas em enfrentar a sua própria realidade e responsabilidades para com os outros. Lara Jean parece ser uma pessoa que tem vários amores e que está bem com qualquer um (sendo isto mais evidente no primeiro e segundo filmes). No primeiro filme vemos que Lara Jean adora ler sobre romance e amor, mas quando é real ela tem medo. Devido ao seu pai ter perdido a mãe, ela acabou por “fechar os seus sentimentos” para evitar sofrer…no entanto entende que nem tudo é preto no branco e que fins trazem novos começos…isto é algo que percebemos mais no segundo filme. No terceiro filme temos uma Lara Jean com um bocadinho mais maturidade…e com uma versão mais realista sobre o amor…ainda com dificuldades em aceitar que nem tudo corre como planeado e que temos de lutar pelo que realmente queremos.

Peter:
Peter continua a ser consistente em relação ao resto dos filmes, continua a ser a personagem que “resolve tudo” com frases feitas. No primeiro filme Peter é um bocado abusador se formos bem a ver (mas Lara Jean é igual)…usa Lara Jean para tentar ter Gen de volta…depois acaba por querer que Lara Jean goste dele mas ao mesmo tempo quer que Gen goste dele…de certa forma mostra o quão confusos os adolescentes podem ser…e especialmente o quão facilmente conseguem magoar alguém por não saberem o que realmente querem. Esta personagem tem um medo enorme de ser abandonada…devido ao seu passado…que é algo que neste filme vamos perceber melhor com o desenrolar da história.

Chris e Gen:
Estas duas personagens são, a melhor amiga recente (Chris) e ex melhor amiga (Gen).
Gen, neste filme, acaba por ficar mais amiga de Lara Jean…no entanto ela é o estereótipo de rapariga popular que quer todos os rapazes…mas no fundo até tem bom coração…apenas não sabe lidar bem com a rejeição.
Chris é a rapariga que só se quer divertir e não quer saber da escola…é o oposto de Lara Jean…é descontraída e extrovertida. 
Estas amizades são um pouco improváveis na verdade…porque elas não parecem ter nada a ver com Lara Jean…a nível de narrativa não nos dão muita informação sobre a amizade e o que as liga. Isto é algo que acontece com o resto das personagens também…realmente a única pessoa que parecia ter algo a ver com Lara Jean é John Ambrose.

Opinião final:
É um filme bom para adolescentes, tem todos os ingredientes para captar a atenção dos jovens…no entanto não quer dizer que não seja igualmente indicado para os mais velhos. Acaba por ser um filme um pouco mais “terra a terra” pelo facto de ser uma ficção mais realista (algo que realmente pode acontecer na vida real…pelo menos parcialmente). É um bom filme para entreter o espectador…não é um filme que levante muitas questões filosóficas sobre o amor. Continua a ser uma abordagem muito simples e superficial do que é realmente uma relação…no entanto está bem retratada.
Entre este filme e outros do mesmo género da Netflix, como por exemplo The Kissing Booth, Sierra Burgess Is a Loser, The Perfect Date…este é sem duvida o menos ficcional e provavelmente o melhor.