Análise a Words On Bathroom Walls ★★★★☆

Adam, um adolescente diagnosticado com esquizofrenia, tenta lidar com os efeitos colaterais do seu distúrbio psicológico enquanto tenta ser um “adolescente normal”.

Visão geral: 
Um drama romântico com uma grande dose de psicologia, com quase 2h, adequado para maiores de 13 anos, no entanto, devido á sua complexidade será mais indicado para espectadores acima dos 15 anos. É um filme adequado para os tempos de hoje tendo em conta a percentagem de pessoas que descobriram que têm algum tipo de distúrbio mental nelas mesmas ou em familiares/amigos. Ainda não existem muitos filmes com esta temática e com este nível educacional sobre esquizofrenia a um ponto de se tornar leve…será bom para variar do normal romance que se vê no dia a dia. Serve para mostrar alguns aspetos do distúrbio e de como normalmente a pessoa tem que lidar com ele…uma tentativa de “dissolver o estigma”.

Análise narrativa: 
O produtor deste filme, Thor Freudenthal, é conhecido pelo filme Percy Jackson: Sea of Monsters e alguns episódios das séries Arrow, Supergirl e The Flash.
Este filme foi baseado no livro de Julia Walton com o mesmo nome. Normalmente esta escritora, ainda com poucos livros, tem interesse em escrever ficções sobre personagens que se debatem com distúrbios psicológicos. Nick Naveda fez a adaptação do livro para filme.
A nível formal, este filme é nos apresentado como uma espécie de documentário ficcional em que a personagem principal é o narrador. É um filme com uma narrativa simples, mas que contém alguns saltos no tempo (flashbacks) que são usados para mostrar o inicio da descoberta do problema…uma espécie de recapitulação. Tem um final fechado e com um toque de esperança…algo que faz todo o sentido…a ideia deste filme é dar a mostrar á sociedade que as pessoas com esquizofrenia não são “malucas” e estam cansadas de serem tratadas dessa forma…e todos sabemos que quando somos julgados por algo que não conseguimos controlar, nós tendemos a fecharmo-nos mais e a tentar esconder o problema porque achamos que ninguém nos vai compreender.
Temos que ter em conta que estamos perante uma ficção…muito romantizada e que não representa todas as pessoas com este distúrbio…muitos deles não têm vozes amigáveis (quase como diferentes facetas), a sua maioria só tem a voz “inimiga” que os tenta deitar abaixo todo o tempo…assim como as ilusões que a personagem tem, que são obviamente criações da sua mente…algumas pessoas têm ilusões que não conseguem perceber que são de facto ilusões…no entanto é um bom começo de apresentação do problema de forma mais leve.
A nível de como “o tratamento” funciona está bastante realista…todas as complicações que se podem ter, todas as dificuldades em encontrar um medicamento que funcione e que se mantenha estável por mais de 3 meses. A nível mental, Adam está bastante bem representado, toda a sua complexidade, paranoia envolvida e questões existenciais…assim como o seu medo de ser julgado e todas as estratégias para tentar parecer normal aos olhos das outras pessoas.

Análise ao som/música e imagem: 
Cinematografia por Michael Goi, conhecido por filmes de terror e suspanse…algo que ajuda nas partes psicologicamente mais pesadas e especialmente nas partes mais assustadoras em que a personagem começa a alucinar.
Andrew Hollander é o co-compositor, sendo provavelmente mais conhecido pelo filme My Friend Dahmer, sendo este também um filme psicologicamente pesado.
A música de fundo do filme é de género de suspanse minimalista e progressivo…no entanto em alturas com mais adrenalina temos um género mais eletrónico…acompanha bem a ação e não há nada demasiado alto ou demasiado baixo. Temos também efeitos especiais sonoros usados para enriquecer o universo mental de Adam.
A nível de imagem temos uma imagem de tom mais quente com a predominância dos tons pastel/bege e verde menta…temos uma imagem cuidada, com atenção aos detalhes e respeitando os padrões cinematográficos…a imagem está ao nível de imagem de festival pela qualidade de imagem, no entanto os enquadramentos e movimentos de câmara estam ao nível dos filmes comerciais sem grandes inovações. Temos também a presença de alguns efeitos especiais visuais que estam bastante bons para um filme que é realizado sem grandes companhias cinematográficas. 
A nível gráfico acompanha o título, as letras são mostradas como “palavras nas paredes dos WC’s”…isto é algo que vem a acontecer cada vez mais, uma espécie de ligação entre a letra e a imagem para que o espectador relacione as duas quase como uma imagem de marca.

Personagens:
Não é um filme que tenha muitas personagens, tudo é muito centrado em Adam (a personagem principal).
A nível de cast não temos atores/atrizes muito conhecidos nos grandes ecrãs, no entanto isso não os impede de serem bons no que fazem…e isso é algo que se vai ver neste filme.
Algo que temos que perceber primeiro de tudo é que Adam não é o “modelo de pessoa” que tem esquizofrenia…o que mais vemos são pessoas sedadas a um nível extremo e pessoas que beberam 5 cafés e tomaram algum tipo de droga…e todos sabemos que ter uma personagem inconsistente como essa não nos ajudaria a criam uma ligação com ela e iria pôr o filme em xeque. Cada pessoa tem sintomas diferentes, cada pessoa reage de forma diferente aos medicamentos, cada pessoa tem o seu tipo de intensidade de distúrbio ou outros distúrbios que a acompanham.
A personagem que nos tentam mostrar é alguém que se debate com o seu distúrbio…e depois com os efeitos secundários dos medicamentos…inicialmente sem esperança, depois estável mentalmente (a fase em que os medicamentos funcionam) e no final deprimido porque as coisas não funcionam permanentemente. Dão uma versão mais animada, cómica até…e de certa maneira mais estável…alguém que sabe o que quer para o seu futuro e que consegue arranjar força para lutar.
A nível de linguagem/expressão corporal/facial/vocal, o ator que dá vida a Adam fez um trabalho extraordinário, conseguimos sentir o cansaço mental e físico, o stress, o desconforto, a confusão e a timidez.
Falando agora das outras personagens neste filme…mais uma vez temos uma romantização e um positivismo que normalmente não acontece, porque o nível de complexidade e dificuldade de viver com alguém com este tipo de distúrbio pode criar bastantes confusões e mal entendidos, a ponto de a família precisar de terapia também para poder lidar melhor com a situação.

Opinião final:
É um bom filme para amantes de psicologia, mas temos que ter em conta que é uma ficção e não um documentário…para este tipo de espectadores com este gosto particular não será de todo uma perda de tempo.
Dá-nos uma ideia de como é viver com esquizofrenia, acaba por ser bastante educativo e pode ajudar a perceber melhor o que se passa com alguém que tenha este tipo de distúrbio psicológico.
É bom para se ver sozinho ou com alguém…não será um tipo de filme que se veja tão facilmente com a família ou amigos…mas pode sempre haver essa possibilidade em certos casos com determinados espectadores.