Análise a WORTH (NETFLIX) ★★★★☆

Um corajoso advogado oferece-se para estimar o valor económico da vida das vítimas do 11 de Setembro.

Sobre o filme:
É um filme de ficção documental, um drama com uma elevada dose psicológica que vai colocar algumas questões. Tem cerca de 1h e 45min e é apropriado para audiências acima dos 12…mas sejamos francos…provavelmente a maior parte da carga psicológica deste filme irá passar ao lado das audiências abaixo dos 15 anos.
Este filme esteve no Sundance Film Festival em 2020 e saiu para comércio em 2021 (com a particularidade de ter saído um pouco mais cedo nos Estados Unidos e Inglaterra).

Análise Narrativa:
Como é normal em filmes de festival temos uma narrativa com um ritmo mais lento…no entanto reparamos que neste filme temos um ritmo lento apenas na primeira parte…acabamos até por ter um ritmo, talvez, demasiado acelerado na ultima meia hora, algo que nos leva a pensar que este filme fosse mais adequado para uma mini-série, podendo assim manter um ritmo mais constante e dando a oportunidade de criarmos uma conexão mais forte com as personagens.
Este filme é uma critica à diferença de classes, à falta de compreensão e empatia para com o outro. O espectador pode esperar por momentos de raiva e repudio em relação a certas personagens, algo que torna realmente o filme mais magnetizante.
Será difícil conter a emoção com este filme…para os que são mais sensíveis ao sofrimento humano não há como passar o filme sem chorar.

Questões éticas e morais:
Neste filme temos questões éticas e morais. Vemos as personagens a debaterem-se com questões que nunca na vida fizeram a si mesmas…e que provavelmente muitos de nós nunca fez.
Temos questões do tipo: “Será que um CEO é mais valioso que um empregado de limpeza?” , “Qual a diferença entre igualdade e equidade?” , “Como traçamos a linha que separa a racionalidade da caridade?”.
Por um lado, temos a classe mais baixa satisfeita com o que vai receber e pelo outro temos a classe mais alta que não fica satisfeita com o que recebe (mesmo recebendo 5 vezes mais).
Todo o filme consiste então em encontrar uma maneira de deixar a maioria das vítimas satisfeitas financeiramente para que ninguém seja processado…estamos, portanto, perante o suborno coletivo para atingir a conformidade social, possibilitando assim a saída em pune das figuras políticas.

Análise ao Som, Música e Imagem:
A nível visual percebemos que é um filme de festival, pelos tons mais esverdeados e beges da sua imagem assim como a falta de brilhos; a nível sonoro pelo som direto (certas ações das personagens acabam por ser extremamente altas em comparação com a voz); pela maneira como é filmado — pelos planos e o seu detalhe.
Devo avisar que este filme não segue as regras “clássicas” de enquadramento e que por vezes isso nos pode “desconectar” um pouco do filme (por não estarmos habituados e pelo facto de que o nosso cérebro estar programado para ler imagens de certa forma).
A música é elaborada por Nico Muhly…minimalista, progressiva, com recurso a instrumentos de cordas que ajudam a dar um toque mais melancólico e triste; tudo isto ajuda-nos a ficar num sentimento suspenso que se vai intensificando segundo a segundo.

Personagens:
A nível de personagens temos uma grande lista, no entanto temos 3 personagens que são mais centrais e uma personagem principal. Todos fazem um trabalho extraordinário…e assim tem que ser devido ao tema que é e à carga emocional.
De salientar as representações dos atores já conhecidos pelo publico: Michael Keaton e Stanley Tucci.
A nível de desenvolvimento psicológico das personagens temos um crescimento interior nas personagens mais centrais…no entanto, sendo um filme do estilo documentário ficcional, não sabemos até que ponto a personalidade das personagens não está a ser manipulada para tornar a narrativa mais interessante.

Opinião final:
É um filme extremamente bem feito (tirando os aspetos já referidos) a nível técnico e narrativo (sem contar com a legitimidade das informações, ou a falta dela); todos sabemos que isto não é um documentário ficcional e que há sempre uma parte ficcional existente (por vezes até factos falsos) para agarrar o espectador à cadeira.
Para quem tenha vivido esta tragédia provavelmente não será um filme que seja adequado devido ao trauma (são mostradas algumas das filmagens originais).
Para quem não esteve envolvido pode ser algo interessante, um pouco ao estilo de ficção documental que educa sobre determinado tópico.
Não é um filme para todos os estômagos e/ou corações devido à enorme carga psicológica e emocional.