Análise a YOU (série, Netflix, 2018) | oitobits.io

Série da Netflix, baseada no livro de Caroline Kepnes com o mesmo nome, tem 10 episódios de cerca de 45min cada…para já apenas 1 temporada, no entanto é provável que vá haver mais 2 temporadas também baseadas nos livros. Esta série é um thriller psicológico que será “a história de terror da vida real”, algo que realmente pode acontecer a qualquer um de nós a qualquer altura…e que nos faz questionar o que é normal e o que é excessivo nas relações…e também nas informações que mete-mos online que poderão ser usadas contra nós ou permitir resultados não muito agradáveis.

Toda a série gira em volta dos comportamentos e pensamentos de Joe, e da busca interminável pelo amor de Beck…levando pela frente quem seja preciso levar.

É uma série que se torna um tanto ao quanto educativa a nível psicológico, provavelmente uma série que espectadores com interesse em psicologia irão adorar…obviamente que com muito drama e mistério à mistura. Sendo uma série com apenas 10 episódios e que mantém um ritmo constante, será completamente normal que no fim do primeiro episódio o espectador queira ver o episódio seguinte…para quem gosta destes temas muito provavelmente vai ficar colado ao ecrã e acabar por ver a série em 3 dias (se não for menos).

ANÁLISE FORMAL:

No caso desta série, a personagem principal é um sociopata e logo a partir do primeiro episódio é apresentado ao espectador uma série de “red flags” do seu comportamento. A parte interessante é que o espectador tem como narrador o próprio sociopata (Joe) e consegue perceber através do seu monólogo o que realmente delimita o comportamento normal e o comportamento associado à sociopatia ou simples obsessão e manipulação. Só no episódio 4 é que temos Beck, parcialmente, como narradora.

A nível de imagem, esta série tem um cuidado especial em deixar a sua imagem suave, tem 2 temperaturas de cor diferentes, uma predominantemente quente e outra predominantemente fria…o que faz todo o sentido tendo em conta que a personagem principal mostra tanto o seu lado “bom” como lado “mau”.
 Tem transições de imagem suaves assim como movimentos de câmara…talvez para suavizar o tema (visto que é algo pesado).
 A nível de música, temos um vasto reportório de música de vários estilos, indicados para a ação em que se inserem. A nível de score temos uma música minimalista e progressiva com um toque sinistro na sua maioria.

Algo que achei bom nesta série foi o facto de que quando as conversas são observadas por Joe, nós vemos as mensagens no ecrã em vez de vermos simplesmente o plano do telemóvel ou algo do género, outro ponto forte reside no detalhe de que nessas mensagens ouvimos (frequentemente) a voz da pessoa que escreveu essa mensagem, o que torna a coisa mais dinâmica.

PERSONAGENS: Todas elas muito bem representadas, os atores e atrizes encaixam perfeitamente nos seus papeis e tornam a série ainda mais interessante. Sendo esta uma série que envolve muito o lado psicológico das coisas, uma má representação poderia estragar a série por completo.

JOE:
 A personagem que cria mais conflitos no espectador…acabamos por vezes por torcer para que ele fique com Beck e outras vezes por querermos que vá parar á prisão. É de longe a personagem mais interessante em toda a série. Retrata uma pessoa com sociopatia perfeitamente, obviamente com alguns exageros visto que é ficção, no entanto os padrões de comportamento e linhas de pensamento estão lá. É uma personagem complexa e em conflito interno durante toda a série…o facto de termos acesso ao seu pensamento faz-nos ter mais empatia por ela e torna-a ainda mais interessante.

BECK:
 Algo que todos os espectadores se vão questionar é o seguinte: Porque é que Beck não tem cortinas na janela?
 Todas as pessoas iriam, no seu perfeito juízo, ter cortinas nas janelas se vivessem num rés do chão…mas acho que esse detalhe é uma analogia à mentalidade de Beck, sem segredos, nada reservada (para além do assunto de família)…mostra que é uma presa à vista do seu predador e que é um tanto ao quanto despreocupada.,,ou pode ser simplesmente conveniência narrativa…fica á interpretação de cada um. Ao mesmo tempo lembra os comportamentos que as personagens dos filmes de terror têm…aquelas atitudes que nos fazem gritar “NÃO VÁS PARA AÍ!”, SIMPLESMENTE FOGE!”. Acho que Beck é das personagens menos interessantes da série, acredito que tenha sido criada dessa maneira pouco interessante e não por má representação.

PEACH:
 A típica menina rica e famosa. A representação está ótima, encaixa-se perfeitamente. Com o tempo vamos descobrindo certos aspetos sobre esta personagem que nos fazem pensar que até as amizades podem ser abusivas…e que ás vezes os nossos “inimigos” podem estar mais perto do que pensamos. É um personagem psicologicamente muito parecida a Joe e com o decorrer dos episódios isso vai perceber-se.

CANDACE:
 A personagem que vai deixar muita gente a questionar-se sobre o que lhe terá acontecido, vemos uma espécie de flashbacks de memórias de Joe em ela…ao ponto de no final nos questionarmos se o que estamos a ver é apenas mais uma memória ou ilusão ou se é realidade. É a “pitada de sal” na série, a mini história que nos atiram desde o início e que nos deixa intrigados.

PACO:
 Vejo Paco como uma versão de Joe em criança, é com ele que Joe mostra o seu lado mais humano e amigável, é com ele que se preocupa realmente. No entanto no fim da série acho que é uma personagem que começa a mostrar algumas escolhas erradas e que talvez se torne numa versão mais pequena de Joe…porque…quem é que iria ignorar uma pessoa que estaria a gritar por ajuda?

AMIGAS DE BECK:
 Sinto que servem apenas para “encher o cenário” e criar “entradas e saídas” narrativas…a história principal passa-lhes muito ao lado. Mas é esse o papel delas, ficarem sem saber de nada…um bocado como o resto das personagens que não entram em contacto direto com Joe em todos os episódios, como é o exemplo de Paco. Acho que estas duas personagens são um pouco o reflexo da sociedade de hoje em dia na faixa etária dos 15 aos 30 anos.

Para finalizar…esta série faz-me lembrar o filme Misery (1990), baseado no livro de Stephen King com o mesmo nome…um thriller psicológico que também aborda o tema da obsessão e sociopatia…embora ache que esse filme seja um pouco forçado em comparação a esta série.
 Esta série é apropriada para audiências acima dos 16 anos, obviamente devido à complexidade psicológica das personagens e pelas partes mais gore de alguns episódios.