Antes de ‘As Crónicas do J-Horror’ visitámos ‘One Cut Of The Dead’, a hilariante comédia zombie de Shin’chirô Ueda
One Cut Of The Dead (2017) é o mais recente fenómeno do género zombie, um estilo de cinema que muitos consideram totalmente explorado, mas que curiosamente se vai reinventando através do trabalho de mestres, sendo neste caso, pelas mãos de Shin’chirô Ueda, um realizador em início de carreira, mas com um talento nato e uma compreensão de narrativa muito evoluída.
Com apenas um orçamento de 3 milhões de yenes (25 000 dólares) e um elenco relativamente desconhecido, este filme estreou num pequeno anfiteatro no Japão, e de seguida foi exibido em diversos festivais de cinema, tendo chegado a Portugal em 2018 para a 12ª edição do Motelx, em Lisboa.
Aqui, ganhou o Prémio do Público para Melhor Filme (o 1º na história do festival), e um dos muitos que se juntam ao currículo impressionante deste filme, que recebeu nomeações e prémios em mais de 30 festivais e múltiplas cerimónias de renome, particularmente na 42ª edição da Japan Academy Prize, onde ganhou o prémio para Melhor Edição (executada por Shin’chirô Ueda), e foi nomeado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (para Takayuki Hamatsu), Melhor Argumento, Melhor Banda Sonora e Melhor Som.
No total, este clássico instantâneo japonês arrecadou cerca de 3.12 mil milhões de yenes (30 milhões de dólares), que corresponde a mais de 1000% do seu orçamento.
One Cut Of The Dead apresenta uma premissa curiosa e cheia de potencial. Começa numa antiga estação de tratamento de água, utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, onde uma produção independente está a gravar um filme de zombies. Ainda que abandonado, diz-se que este armazém terá sido o palco de experiências realizadas em humanos durante a Guerra.
Ao efetuarem uma pausa na produção, o impensável acontece quando a equipa é atacada pelos seus próprios membros, que se transformaram em zombies, dando-se o início do apocalipse. O realizador Higurashi (Takayuki Hamatsu) ao se deparar com a situação exige que as filmagens continuem em tempo real, considerando que o filme será mais puro e realista desta forma, e há uma regra imperativa, este filme tem que ser gravado num único take!
E é aqui que a premissa se torna interessante, pois este take singular são precisamente os primeiros 37 minutos de rodagem desta maravilhosa longa. O que se segue pode ser interpretado de diversas maneiras, e no espírito de manter aqui o efeito-surpresa, vamos dizer que é de certa forma um tributo brilhante ao cinema indie. A cinematografia e edição são absolutamente fenomenais, e Shin’chirô Ueda apresenta um argumento detalhado, criativo e hilariante, que dará resposta a todas as dúvidas que o espetador provavelmente acumulará durante o primeiro ato, uma vez que a rodagem deste é inicialmente confusa e a história desalinhada, o que posteriormente acrescenta à mestria do filme.
Esta longa-metragem é perfeita para realizadores em início de carreira. Oferece uma perspetiva interessante sobre os desafios na gestão de produções e é impossível não reparar na paixão de Ueda pelo seu trabalho, contagiante e inspiradora, e de como uma mente criativa e dedicada consegue inovar qualquer género de cinema, com orçamento ou não, ou por mais reinvenções que este possa já ter experienciado.
Excelente trabalho!
Pontuação Final — 95/100