As Curtas da Península Ibérica nos ‘Olhares do Mediterrâneo’, com ‘Sonder’, ‘Teus Braços, Minhas…

Com o arranque dos ‘Olhares do Mediterrâneo’ na plataforma online FILMIN, o oitobits apresenta três sugestões de filmes ibéricos: ‘Sonder’ e ‘Teus Braços, Minhas Ondas’, dois filmes portugueses que fazem parte de uma secção criada exclusivamente para projetos escolares, intitulada ‘Começar a Olhar — Filmes de Escola’, e ‘Cocodrilo’, de Espanha, que integra a Competição Geral de Curtas Metragens.

Para acessos poderão consultar esta página.

Sonder

★★★★☆

Sonder, um projeto de Ana Monteiro, da Escola de Tecnologias, Inovação e Criação de Lisboa (ETIC), é uma curta-metragem muito original, que acompanha a rotina de diferentes jovens que coexistem na mesma cidade, Varsóvia.

Acompanhamos, em fragmentos, os seus hobbies, o seu trabalho, e a sua vida social e privada, com uma naturalidade que reflete uma visão artística da beleza de uma cidade, beleza que apenas vemos passar ao nosso lado. Mais do que a paisagem natural, a arquitetura das ruas e a cultura, tal encanto revela-se também nos atos quotidianos mais simples e na diversidade aos mais diversos níveis.

Realizado a partir de um conceito curioso, Sonder é um filme técnico, experimental e documental, com excelentes cores, planos fechados e de pormenor que dão a tal perceção de ‘fragmento’, e Ana, além de experimentar com a filmagem fá-lo também a nível sonoro, deixando por vezes o próprio som do vento sobrepor a ação.

Em termos de continuidade, não há propriamente a necessidade de mostrar as personagens de diferentes fragmentos a interagirem, mas de qualquer forma, seria uma ideia interessante a certo ponto do filme ver os diferentes grupos cruzarem-se num local mútuo.

Com uma montagem cuidada, Sonder destaca-se na mesma, a cargo de João Pinto e o trabalho direcionado por Ana Monteira destaca-se também na Fotografia e na Direção de Arte e Som.

Teus Braços, Minhas Ondas

★★★★☆

Escrito e realizado por Débora Gonçalves, ‘Teus Braços, Minhas Ondas’ conta a história de um casal, uma mulher e um homem, em pesadas dificuldades económicas. A abertura, num plano geral que revela uma vila à beira mar na madrugada, corta para o casal que permanece acordado pela calada da noite. O seu sofrimento faz-se notar quase que instantaneamente. Avistamos Helena, interpretada por Ana Brandão, a quebrar-se em lágrimas enquanto, noutro plano, o seu marido Paulo (Manuel Wiborg) coloca o seu negócio à venda. Sem nada a perder, e a passo lento, atravessam a praia agarrados e fazem-se ao mar num pequeno barco onde, só restando o seu amor, dão-se um ao outro, para dentro um do outro.

Esta produção distribuída pela Universidade da Beira Interior, que integra a secção ‘Começar a Olhar — Filmes de Escola’, recebeu a Menção Honrosa do Grande Prémio Nacional do FEST Portugal, e é um belo exemplo sobre como criar ambiente e histórias através de poucas palavras.

A direção de arte, cor, fotografia, passo narrativo e montagem são belissimamente adequados para entendermos a dor de Helena e Paulo, que é contínua e duradoura, e relacionável para os tempos em que vivemos. No fim, quando não nos resta mais nada, agarramo-nos ao que temos, ou a quem temos.

Cocodrilo

★★★★☆

‘Cocodrilo’ é uma belíssima história que muito conta nos seus curtos 5 minutos de rodagem.

Alicia (Marta Bayarri), aguardando que o seu marido saia de casa, senta-se em frente ao computador a ver um ‘live stream’ de um youtuber com o nome ‘VictorGaming’, em que fãs a colocam questões no chat. Victor (Alejandro Bordanove) responde a perguntas pessoais enquanto joga, confessando que nasceu e cresceu em Barcelona, e que se mudou para Madrid em consequência de uma relação conturbada com os seus pais. Apesar de querer fazer as pazes, não sabe como, pois não fala com os mesmo há cerca de dois anos.

Alicia, que parece segui-lo regularmente, entra no chat e coloca um comentário que o deixa perplexo, e rapidamente percebemos a ligação profunda entre estas personagens, de forma subtil.
 
 Este filme, escrito e realizado por Jorge Yudice, é uma história simples mas com um extenso ‘background’, no sentido em que, mesmo nos seus curtos 5 minutos, ficamos a desejar conhecer melhor estas personagens e que caminho tomaram para chegarem à situação onde os encontramos. Os grandes planos direcionados por Jorge, em que observamos as expressões e linguagem corporal de Alicia e Victor, oferecem-nos um olhar profundo acerca de como os problemas não resolvidos afetam estas personagens, o que torna este, um filme íntimo, e a sua qualidade acresce com uma edição e fotografia cuidadas, por Guillermo A Chaia e Julieta Lutti.

‘Cocodrilo’ encontra-se na Competição Geral de Curtas Metragens dos ‘Olhares do Mediterrâneo — Women’s Film Festival’, e já arrecadou mais de 10 prémios em festivais por toda a Europa, com incluem repetidamente as categorias de ‘Melhor Filme’ e ‘Prémio do Júri’.

‘Sonder’, ‘Teus Braços, Minhas Ondas’ e ‘Cocodrilo’ estarão disponíveis na plataforma VoD Filmin Portugal de 26 de Novembro a 10 de Dezembro.