“Uma locomotiva chamada Guns n’Roses” — Crónica/Reportagem sobre o concerto mais esperado do ano

Finalmente chegou o dia: a mais aguardada e cobiçada reunião dos amantes do hard rock aterrou em solo português. Axl Rose, Duff McKagan e Slash juntos em palco no Passeio Marítimo de Algés. Uns diriam impossível, outros não deixaram de acreditar, mas a verdade é que Axl e Slash “fumaram o cachimbo da paz”, depois de tanto ódio destilado ao longo dos anos.

Em prol de uns valentes dólares? Absolutamente. Mas independentemente dos motivos adjacentes, a música dos norte-americanos Guns n’ Roses continua a marcar gerações, desde a estreia do longa duração «Apettite for Destruction» em 1987.

Faltavam 10 minutos para as 9 horas e as redes sociais dos grupos de fãs portugueses partilhavam fotos nas imediações do recinto. Passei por Algés, na parte da manhã e já se encontravam pessoas passeando pelas ruas, ostetanto t-shirts com o icónico logótipo redondo e o lenço vermelho imitando a indumentária de Axl Rose no auge na carreira.

A ansiedade era cada vez maior e o tempo parecia que não avançava. Como fã devoto da banda desde a minha adolescência, nunca imaginaria ver o núcleo duro dos Guns n’ Roses com os meus próprios olhos.

Não é a banda completamente original (falta o guitarrista-ritmo Izzy Stradlin e o baterista Matt Sorum/Steven Adler), mas Richard Fortus, Frank Ferrer, Dizzy Reed (eterno teclista desde o período do Use Your Illusion) e a recém chegada Melissa Reese cumprem com distinção o papel que lhes é atribuído.

Fortus e Ferrer são dois membros “sobreviventes” da época, que alguns fãs denominam, “Axl and Friends”. Época essa que teve direito a uma passagem no Pavilhão Atlântico em 2010 e que contou com um “tradicional” atraso de Axl Rose para entrar em cena.

Mas agora, em 2017, já não há espaço para as “birras” de Tio Axl, como carinhosamente chamo o emblemático vocalista. Os ecrãs gigantes do palco mostram animações do símbolo da banda e ouvimos pelas colunas de som a música de abertura dos Looney Tunes.

Ainda o sol se estava a pôr quando a trupe tomou de assalto as mais de 50 mil pessoas que se ajuntaram em Algés. “É demasiado fácil quando todos estão a tentar satisfazer-me”, canta o cinquentão Tio Axl durante o refrão de «It’s So Easy», tema que abre o concerto.

Segue-se «Mr Brownstone» e «Chinese Democracy», duas músicas de fases completamente distintas, mas estranhamente ligam-se de forma sublime quando tocadas por Slash e Duff. Deixando as dúvidas de lado, o riff de «Welcome to the Jungle» continua a ser arrepiante e deixa ao delírio os milhares que esgotaram o recinto.

Há espaço para ouvir temas “épicos”, no que diz respeito aos arranjos musicais como «Estranged», «Civil War» e «Coma», todos do período megalómano dos discos «Use Your Illusions». Há o habitual solo do Slash do tema do filme “O Padrinho”, precedido de um pequeno tributo a outro herói de guitarra, Chuck Berry, falecido em março deste ano.

«Sweet Child O’ Mine» é cantada em unissono e em «November Rain» ouve-se a melodia da série juvenil dos anos 1990 «Beverly Hills 90210». A grandiosidade deste tema é recriado na perfeição e soa intemporal, passados estes anos todos.

Depois de termos escutado pérolas como «Rocket Queen», «Out ta Get Me», e «Night Train», o encore estava reservado para ouvir a balada acústica «Patience». Em 2017 serve como uma carta de amor aos fãs que esperaram por esta reunião.

«Whole lotta Rosie», ouvida há um ano atrás com os AC/DC acompanhados por Axl Rose é novamente tocada, mas desta vez com a banda nativa. Sem quaisquer dúvidas, «Paradise City» encerra o espetáculo com um Slash a tocar com a guitarra às costas e com Axl a projetar o seu microfone para meio da multidão.

Apesar da entrega dos músicos em palco e toda a pirotecnia que acompanha o espetáculo, a banda é pouco comunicativa. Compensaram com as quase três horas de concerto, mas mesmo assim é algo de estranho, tendo em conta que já foram considerados a “banda mais perigosa do mundo”.

Não foi o melhor concerto de sempre, porque a voz do Tio Axl já não o permite, mas a máquina dos Guns N’ Roses está bastante bem oleada e recomenda-se. Resta saber qual será o futuro da digressão «Not in This Lifetime», que já rendeu, pelo menos, 230 milhões de dólares.