À primeira vista, «Five Nights at Freddy's: O Filme» aparenta ser uma tentativa desesperada dos estúdios Blumhouse em cativar os fãs de videojogos desta saga. No entanto, é necessário contextualizar que este franchise possui já um respeitável legado. Os números falam por si: 13 jogos, 28 livros (sendo que quatro deles possuem edições em português), merchandise diverso e agora uma longa-metragem. Tudo isto nasceu da mente de uma única pessoa.
Em 2014, completamente desanimado com o seu percurso nos videojogos e motivado pela crítica que afirmava que as suas personagens possuíam designs "assustadores", Scott Cawthon, decide lançar um jogo de terror chamado «Five Nights At Freddy's». O conceito era muito simples: somos um segurança de uma pizzaria e temos de "sobreviver" ao turno da noite. Para fazê-lo, inspecionamos câmaras de vigilância, controlamos as portas de acesso e vigiamos as mascotes robóticas deste restaurante, que, inexplicadamente, ganham vida própria.
A jogabilidade é bastante simples, mas o principal ponto atrativo era os "jumpscares", se bem que o enredo deixava alguns aspetos propositadamente ambíguos, para criar um clima misterioso. «Five Nights at Freddy's» começou a ganhar outras propoções graças ao Youtube. Diversos criadores de conteúdo, principalmente os que focavam em gameplays de videojogos de terror, começaram a dar importância a este singelo título. Alguns deles, teorizavam sobre as implicações da estória e dos seus personagens, fazendo que o interesse neste jogo e a comunidade de fãs crescesse exponencialmente.
Nos três anos que se seguiram ao lançamento do que acabaria por se tornar num primeiro capítulo, Scott Cawthon esteve bastante ocupado em criar as sequelas e aprofundar o 'lore' de «Five Nights at Freddy's». Para terem noção da expetativa que se gerava, o seu site pessoal deixava pistas dos seus próximos jogos sob a forma de imagens em jeito de teasers. Os fãs, rápidamente, dissecavam cada uma delas, ao ponto de - pasmem-se - verificarem o código html da página web à procura de pistas.
O salto algo tumultoso para o grande ecrã
Em 2015, os estúdios Warner Bros anunciaram a compra dos direitos para adaptarem o jogo numa longa-metragem, tendo a supervisão de Scott Cawthon. Após alguns desentendimentos na escrita do argumento, Cawthon anunciou que a Blumhouse Productions seria o novo estúdio responsável pelo desenvolvimento da adaptação para o grande ecrã.
Chris Columbus - conhecido pelo «Sozinho em Casa» e pelo primeiro filme da saga Harry Potter - sentou-se na cadeira de realizador, mas acabou por não aquecer o lugar e saiu, devido a diferenças criativas com Scott Cawthon.
Após alguns atrasos, a longa-metragem voltou a encarrilhar quando foi anunciado, em 2022, que a Jim Henson's Creature Shop seria responsável pelo criação das mascotes de «Five Nights at Freddy's». Nesse mesmo ano, Emma Tammi é revelada como a nova realizadora e também co-argumentista, juntamente com Scott Cawthon e Seth Cuddeback. Quase um ano depois, a adaptação do popular videojogo chega às salas de cinema de todo o mundo, incluíndo as portuguesas.
O que se destaca nesta adaptação?
«Five Nights at Freddy's: O Filme» conta com Josh Hutcherson (The Hunger Games) como Mike Schmidt , Elizabeth Lail (You, Once Upon a Time) como a agente de autoridade Vanessa e Matthew Lillard (Scooby-Doo) como Steve Raglan nos principais papéis. A jovem atriz Piper Rubio também merece destaque - ao interpretar a irmã mais nova de Mike - visto que é relevante na trama.
O elenco é carismático o suficiente tendo em conta a premissa simples do jogo original, mas o que sobressai são, sem dúvida, as mascotes da cadeia Freddy's Pizzaria. Sempre que são o foco no filme, há um certo clima magnético. Senti verdadeiramente intimidado. Esta adaptação conseguiu a proeza de recriar Freddy Fazbear, Bonnie, Chica e Foxy da forma mais fiel possível. As cenas que envolvem o lado mais mortífero destes seres robóticos são bem executadas, apesar de estarem limitados pelo que podem mostrar, sabendo que é um filme para maiores de 14 anos.
O filme foi pensado ao pormenor e, tal como o jogo, contém easter eggs que irão deliciar os fãs mais atentos desta franquia. Nesse aspeto, é notória a influência de Scott Cawthon na produção desta longa-metragem, pois, sempre deu primazia aos pequenos detalhes. Em termos de enredo, sem revelar muitos pormenores, digamos que segue os acontecimentos dos primeiros quatro jogos.
As angústias de Mike Schmidt são retratadas de forma intrigante. «Nightmare on Elm Street», uma outra saga popular de terror, foi claramente uma referência nessas respetivas sequências.
O ridículo também está presente
Apesar de tudo isto, a longa-metragem também tem a sua dose de momentos estapafúrdios, que prejudicam o tom algo sério do enredo que filme presenteia na sua primeira metade. Reconheço que «Five Nights at Freddys» enquanto franchise, tem também os seus momentos mais leves, mas creio que, numa adaptação ao grande ecrã, o tiro tenha saído pela culatra. O momento em questão, envolve Abby - interpretada por Piper Rubio - as mascotes da pizzaria, Mike e Vanessa, numa cena que envolve um "trabalho em equipa". Foi o único momento que senti vergolha alheia por este filme.
O antagonista tem um fim digno e, nota-se perfeitamente, que os atores divertiram-se durante as gravações «Five Nights at Freddy's: O Filme». Tal como o jogo, o final é deixado em aberto e, nos momentos finais dos créditos, há uma pista enigmática sobre o que virá na possível sequela.
Veredito
«Five Nights at Freddy's: O Filme» está a léguas de ser considerado um filme de terror marcante. A adaptação deste popular videojogo tenta disparar em várias direções no que diz respeito à narrativa, que faz com que perca foco em alguns momentos.
As performances dos atores são suficientes quanto basta e o recurso a 'jumpscares' é uma fraca tática para injetar alguma dose de sustos no filme. Não procurem por momentos altamente aterrorizantes, no entanto, a realização de Emma Tammi não compromete em certas instâncias. Para fãs do franchise, será, sem dúvida, é um ótimo serão. Quem não for, tem que assumir que é uma "foleirada" no bom sentido.