Nicolas Cage e robôs assassinos, em Willy’s Wonderland

★★★☆☆

Willy’s Wonderland é uma autêntica joia para os fãs de Nicolas Cage, cuja personalidade e presença encaixa perfeitamente em filmes pouco convencionais que não se levam a sério. No caso deste, Willy’s apresenta todas as características de um filme de culto e é perfeito para Nicolas Cage nesta fase da sua carreira, que se encontra numa espécie de ressurgimento.

Desde êxitos como Face/Off, Leaving Las Vegas e Con Air, hoje podemos ver Cage em novas obras de culto, como ‘Mandy’, ‘Color Out Of Space’, e agora ‘Willy’s Wonderland’, fantásticos filmes de terror que juntam altos elementos de gore e slasher, e que não são estranhos a uma gargalhada ou outra — a sua componente absurda, na minha ótica, torna estes filmes ainda mais interessantes!

Passando então para a premissa de Willy’s Wonderland, Nicolas Cage, creditado como ‘The Janitor’, é uma personagem não nomeada (pelo que chamar-lhe-ei, ‘Nicolas Cage’) que vagueia num belo Camaro Chevrolet pelas estradas desérticas de Hayesville, quando espigões de aço deixados na estrada furam os pneus da sua viatura.

Ao parar forçosamente, Nicolas Cage extrai-se do carro e avistamo-lo de casaco de cabedal e óculos de sol pretos, barba escura completa e aura de ‘badass’, como se pronto para assassinar robôs de bonecos animados, amaldiçoados por entidades sobrenaturais.

Enquanto saboreia uma bebida energética na torreira do Sol, Cage avista uma carrinha reboque a aproximar-se, e de lá sai Jed (Chris Warner), um mecânico muito falador que o ajuda a rebocar o Camaro e dá-lhe boleia até à sua oficina. Lá, cobra-lhe 1000 dólares pela reparação, mas há um problema, Jed não aceita cartão de crédito e todos os ATMs estão avariados.

Não tendo como pagar, Jed propõe que Cage faça um trabalho como forma de pagamento, ao qual Cage apenas acena ‘sim’ com a cabeça. A personagem de Cage, digamos que é, ‘pouco conversadora’, no sentido em que não profere uma única palavra o filme inteiro!

Ao chegarem a Willy’s Wonderland, um antigo restaurante familiar, agora fechado, que fazia festas de aniversário para crianças, Tex Macadoo (Ric Reitz), o proprietário, oferece-se para pagar o arranjo do seu carro se Cage passar uma noite a limpar o estabelecimento, pois pretende reabri-lo em breve. Tex explica que o restaurante fechou devido a alguns incidentes de crianças a escalarem robôs animados e a caírem dos mesmos, no entanto a verdade é muito mais assombrosa que isso. Pouco depois, Nicolas Cage é atacado por uma avestruz robótica.

Em paralelo, conhecemos Liv (Emily Tosta), uma adolescente rebelde que sabe a verdade sobre o Willy’s, e juntamente com o seu grupo de amigos, parte numa missão para salvar Nicolas Cage e incendiar o estabelecimento. No entanto, há um pormenor que desconhece — não é ele que está trancado com os robôs, são os robôs que estão trancados com ele!

Willy’s Wonderland, escrito por G.O Parsons e realizado por Kevin Lewis, é um filme de terror que é consciente da sua disparatada premissa, não se leva demasiado a sério nem tenta ser algo que não é, e por isso é que resulta. É uma obra que cai em muitas das convenções do género, com personagens ocas que insistem em tomar más decisões após más decisões, que incluem e não se limitam a deambular por sítios onde não devem, ignorarem instruções claras, e terem relações sexuais em locais sobre os quais têm conhecimento prévio de não serem seguros. É um regresso ao storytelling de slashers americanos dos anos 80 e 90, em que apenas uma personagem líder e heroica tem uma pequena chance de sobreviver, no meio de um grupo de jovens que está destinado a tornar-se carnificina para os antagonistas.

O que distingue Willy’s Wonderland passa pela estética e execução, com uma atmosfera que relembra tais slashers, muito néon, primariamente desenrolando-se à noite e num sítio confinado, com coloridas luzes práticas. O trabalho do cinematógrafo David Newbert em colaboração com a direção de Kevin Lewis traz-nos memoráveis imagens viscerais, num festival de deboche com excelentes ângulos de câmara, luzes e efeitos práticos, e que inclui cenários de Nicolas Cage a esventrar um robô cheio de óleo com as suas próprias mãos, uma rixa fatal com um robô gorila, e outras memoráveis kills que culminam num épico confronto final, onde a banda sonora do compositor Émoi está absolutamente de parabéns!

Émoi faz um trabalho de destaque neste filme, com divertidos hinos infantis que se encaixam facilmente num paradoxo de terror, alternados com crescentes sons de tensão e outras canções ao estilo de eletrónica dos anos 80, nas quais Cage improvisa algumas hilariantes danças.

Este não é um filme onde seja necessária uma atenção acrescida à narrativa e rapidamente reparamos em diversas lacunas na mesma, assim como não nos é apresentado um intrigante estudo de desenvolvimento de personagem, as performances passam-nos ao lado, e não se perde muito tempo com exposição — Willy’s é uma obra de comédia, ação e terror que sabe qual o seu público alvo, e o seu público alvo sabe exatamente o que quer.

Segue o trailer de Willy’s Wonderland.