‘Parasitas’ — Um Paradoxo Entre Classes Sociais

‘Parasitas’ é um título inteligente que resume perfeitamente a história contada nos 132 minutos de rodagem de uma obra que é, sem dúvida alguma, um dos melhores filmes do ano, tendo provado já o seu valor no festival de Cannes, ao receber o prémio Palme D’Or.

É difícil ocultar o meu entusiasmo ao analisar este filme, uma vez que não me é possível encontrar aqui qualquer falha de narrativa. Esta obra-prima prova que o diretor Bong Joon-ho é um autêntico veterano do cinema, e 16 anos após o lançamento do seu clássico Memories Of Murder, continua a dominar a sua arte sem quaisquer sinais de deslize.

Este filme conta mais uma vez com a participação do aclamado ator coreano Song Kang-ho na sua quarta longa-metragem com Bong Joon-ho ( Memories of Muder, The Host e Snowpiercer), e centra-se num enredo pequeno, procurando desenvolver ao máximo cada personagem, e influenciando assim a narrativa de forma a tomar direções que poderão ser imprevisíveis para o espetador, e também permite ao diretor e coargumentista Bong Joon-ho direcionar o filme sem cair nas restrições de cinema de género.

Podendo definir-se como uma sátira social, este filme faz um paralelo entre classes altas e baixas, contando a história de uma família a viver numa cave em condições precárias, em que Kim Ki-Taek (Song Kang-ho), vive com a sua esposa Kim Choong-Sook (Jang Hye-jin), o seu filho Ki-woo (Choi Woo-shik) e a sua filha Kim Ki-jung (), e dependem de pequenos trabalhos mal pagos para conseguirem sobreviver.

Certo dia um amigo de Ki-woo, Min-hyuk, visita a família, para se despedir deles, uma vez que irá estudar para o estrangeiro, e apresenta uma boa oportunidade de emprego a Ki-woo, sugerindo que ele o substitua como professor de inglês da filha mais nova de uma família de classe alta, os Park.

Após ser entrevistado pela Sra. Park na sua mansão luxuosa, esta fica muito impressionada com as suas capacidades, e contrata-o, desabafando as suas preocupações relativamente ao seu filho mais novo, que precisa de um professor de arte, e Ki-woo recomenda uma profissional chamada Jessica, que na realidade é a sua irmã Ki-jeong, fator que oculta à Sra. Park.

Esta sequência de acontecimentos servirá como catalisador para o que se segue, e desafiará os valores morais desta família que tenta sobreviver numa sociedade complexa, estabelecendo um paradoxo entre classes, colocando em perspetiva e demonstrando a dicotomia de uma família que luta pela sobrevivência e outra acomodada e isolada, suscetível a manipulação. Bong Joon-ho consegue fazê-lo na perfeição sem apresentar uma relação direta, desrespeitar as personagens e reduzi-las a estereótipos, aplicando o seu estilo único de narrativa.

Esta amostra de cinema coreano reflete ainda o que um filme pode ser quando interpreta estilos diferentes, começando como uma comédia satírica e transformando-se subtilmente num verdadeiro thriller, tão imprevisível e negro que deixará o espetador completamente investido, esforçando-se para acompanhar as transições subtis, onde a banda sonora tem um papel imprescindível. Ainda, Bong Joon-ho não desperdiça nenhum minuto de rodagem, todos os arcos deste pequeno enredo são relevantes e influenciam o desfecho.

Este filme é perfeitamente equilibrado, intemporal, relacionável, e uma passagem absolutamente necessária para quem gosta de cinema, independentemente do género.

Recomendo vivamente!

Pontuação Final — 100/100