Teste a ‘Predator: Hunting Grounds’

Welcome to the jungle, we’ve got fun and games! As palavras são de Axl Rose dos Guns N’ Roses num dos seus temas mais célebres e bem podiam servir de mote ao novíssimo ‘Predator: Hunting Grounds’, jogo desenvolvido pela Illfonic com a licença da 20th Century Studios e distribuído pela Sony Interactive Entertainment. Aqui, o jogador tem a opção de incorporar uma equipa de quatro soldados de operações especiais ou de aventurar-se na pele do próprio Predador, um sofisticado alienígena de visita à Terra com o objectivo de caçar humanos.

O sucesso de ‘Friday the 13th: The Game’, lançado em 2017 e que ainda hoje mantém os seus servidores on-line repletos de jogadores, colocou a, até então, modesta produtora Illfonic no mapa dos videojogos. O jogo, que tirava partido da licença dos filmes da saga ‘Sexta-Feira 13’ para colocar o icónico assassino Jason Voorhees a perseguir monitores de um campo de férias até à morte, funcionava muito bem no conceito de “jogo de sobrevivência” e transmitia ao jogador uma experiência muito “cinematográfica”. Apesar das suas falhas, ‘Friday the 13th: The Game’ apresentava um notável respeito pelo material de origem e frequentemente nos fazia sentir no meio de um filme de terror, tanto controlando um aterrorizado monitor como o próprio incansável Jason. Terá sido este um factor determinante quando o estúdio sediado em Golden, no Colorado, se decidiu sobre o seu próximo projecto, um igualmente multijogador assimétrico de sobrevivência mas agora em modo shooter 4v1, e baseado na franquia cinematográfica ‘Predator’.

Realizado por John McTiernan e protagonizado por Arnold Schwarzenegger, ‘Predador’ é um dos mais conhecidos filmes de acção dos anos oitenta e deu origem a um franchise de sucesso que originou três sequelas e dois spin-offs com a saga ‘Alien’, apesar destas não terem chegado perto do brilhantismo do filme original. E é precisamente no primeiro filme onde ‘Predator: Hunting Grounds’ se baseia mais. Desde o cenário de selva sul-americana, ao método de extracção da equipa de elite, às expressões utilizadas por esta, à situação de grupos de guerrilha também se apresentarem no terreno como uma adicional ameaça e até ao facto do próprio Predador poder fazer-se explodir se estiver em vias de ser neutralizado. Até mesmo a célebre música original do compositor Alan Silvestri marca uma forte presença. Vamos então aterrar na selva e apalpar o terreno ao jogo.

Fireteam

Como membro da Fireteam, a equipa militar de operações especiais, temos uma série de missões a completar que variam consoante as diferentes partidas e mapas. Estas poderão consistir no estabelecimento de comunicações, sabotagem ou recolha de artefactos, entre outras. Para além disso, os membros da Fireteam terão sempre adversários controlados por inteligência artificial a dificultarem-nos as tarefas, seja um grupo de guerrilheiros ou sejam paramilitares de uma organização secreta. Tudo isto sem contar com o Predador, que mais facilmente será alertado para a nossa localização se houver intensas trocas de tiros. A Fireteam divide-se em quatro classes, cada uma com características distintas e passíveis de equipar com um impressionante arsenal, que vai desde vários tipos de metralhadoras e pistolas até caçadeiras e armas especiais em destaque no filme original (por exemplo, o lança-granadas de Dutch ou a “mata-sem-dor” de Blain). O jogador poderá optar também por levar consigo dispositivos eléctricos para tentar enganar o Predador ou equipamento médico. De salientar que, caso um membro da Fireteam seja ferido gravemente, poderá ser assistido por um colega e, mesmo em caso de ataque mortal do Yautja, poderá ter uma derradeira hipótese de voltar ao jogo se outro membro da equipa conseguir alcançar um telefone para pedir reforços. Outro “piscar de olhos” ao filme de 1987 é o facto de ser possível a cada soldado de elite cobrir-se de lama e, deste modo, ficar temporariamente fora do radar térmico do caçador alienígena, tal como Dutch, a personagem de Schwarzenegger, o fez. A Fireteam vence a partida se, após todas as missões cumpridas, conseguir alcançar o local de extracção e voltar ao helicóptero ou se for bem-sucedida em matar o Predador antes que este accione o seu mecanismo de autodestruição.

Predador

Na pele do Predador, o objectivo é apenas um: chacinar todos os membros da Fireteam e coleccionar os seus crânios como troféus. Para tal, o alienígena tem ao seu dispor toda uma panóplia de armas e dispositivos vistos nos filmes da saga, para além da sua visão térmica, invisibilidade e a capacidade de rapidamente saltar entre os troncos das árvores mais robustas. O Predador tem a aptidão de imitar vozes humanas para enganar os militares e a capacidade de se auto-regenerar, excepto se atingir o seu estado crítico. Em tal situação, será possível autodestruir-se para que o seu corpo não possa ser capturado, o que implica que os membros da Fireteam terão que ser rápidos a afastarem-se do raio delimitado da explosão. Se esta apanhar todos os soldados, é uma espécie de “meia-vitória” para o extraterrestre, apesar de perecer também. Tal como acontece com a equipa militar, também os predadores têm quatro classes distintas. De referir que o jogo segue um sistema de progressão tanto para o Predador como para a Fireteam. Algumas classes e as melhores armas e perks (um tipo de benefício adicional que o jogador pode levar para cada partida) estarão bloqueadas de início e só os créditos de experiência acumulada ganhos a cada partida poderão contribuir para vir a desbloqueá-las futuramente.

Jogabilidade

Em controlo de um membro da Fireteam, o jogo assemelha-se quase por um completo a um first-person shooter (FPS), ou seja, um jogo de tiro em primeira pessoa. Tem todas as características do tipo, excepto a falta de modos de jogo adicionais. Os soldados são fáceis de controlar (talvez até demasiado, pois correm para trás à mesma velocidade do que o fazem para a frente) e trabalhando em conjunto de maneira sólida e da forma mais silenciosa possível são receitas para aumentar as probabilidades de sobrevivência. Já o controlo do Predador, na terceira pessoa, requer mais habituação pois nem sempre é fácil detectar a equipa cedo e distinguir efectivamente os seus membros dos elementos da inteligência artificial. Também por vezes o acto de subir às árvores não é tão responsivo quanto desejável. Controlando o Predador requer maior paciência para tentar apanhar algum membro mais distraído pois avançar abertamente sobre um grupo compacto resultará provavelmente num acto suicida, especialmente utilizando uma classe mais fraca.

Gráficos

Visualmente, o jogo é apenas aceitável. Os cenários dos diferentes mapas, embora bem definidos ao perto, perdem resolução à distância e não diferem muito uns dos outros, por vezes notando-se problemas de renderização. A figura do Predador está fielmente reproduzida mas os membros da Fireteam por vezes apresentam algumas falhas como, por exemplo, o cabelo anormalmente brilhante. O frame rate na PS4 é um bocado inconsistente a apresenta algumas debilidades de desempenho, especialmente comparando com outros FPS de consola.

Som

Como referido anteriormente, a elogiada composição musical de Silvestri é muito bem-vinda ao jogo, estando presente nas próprias partidas e nos ecrãs de carregamento. Os sons característicos do Predador estão notavelmente reproduzidos. Os membros da Fireteam têm a opção de reproduzir algumas das expressões do filme original (assim como o Predador de imitá-las em voz humana) mas mesmo assim notam-se algumas ausências icónicas. Talvez de futuro, visto que corre o rumor que Schwarzenegger terá gravado a sua voz para o jogo.

Experiência

Apesar das suas falhas e da falta de modos adicionais no lançamento, é inegável dizer que ‘Predator: Hunting Grounds é divertido de jogar, especialmente com um grupo de amigos integrando a Fireteam. Controlar o Predador e todas as suas fantásticas habilidades, tecnologia e armas também é muito interessante mas requer mais perícia e habituação. A progressão em termos de obtenção de melhores armas e dispositivos é mais lenta que a da Fireteam e pode levar a alguma frustração inicial por sentirmos o personagem algo fraco face ao que conhecemos dos filmes. Afinal, quem acompanhou a saga sabe o quão difícil é derrotar um desde alienígenas e seria bom que isso passasse para o jogo, com inclusive outras formas de o tentar parar sem ser à lei da bala. Outra questão que poderia ser repensada é o facto de, mesmo que o Predador mate um dos soldados controlados por humanos arrancando o seu crânio e espinha dorsal, o mesmo pode “ressuscitar” e voltar ao jogo se um companheiro de equipa conseguir chamar reforços. Talvez em vez do próprio soldado brutalmente assassinado voltar à vida, o reforço pudesse vir sob a forma de Dutch, Dillon ou outro dos personagens licenciados do filme original. Não é descabido pensar nisso, visto que a própria Illfonic o fez de forma bem pensada com ‘Friday the 13th: The Game’, integrando o “herói” Tommy Jarvis como personagem de reforço caso os monitores o conseguissem contactar no decorrer de uma partida. Os servidores públicos estiveram sobrecarregados no primeiro dia e têm vindo a melhorar aos poucos mas por vezes ainda se ficam largos minutos à espera de entrar numa partida, especialmente se não temos um grupo de quatro a entrar ao mesmo tempo. Mesmo sem modos adicionais para além da opção entre partidas públicas e privadas, o sistema de progressão e a possibilidade de encontrar itens coleccionáveis manterá o jogador interessado por algum tempo. No entanto, ‘Predator: Hunting Grounds’ terá que crescer a médio e longo prazo em termos de novos conteúdos, métodos de extracção mais diversificados e novas modalidades de jogo, tanto online e offline, para que a boa experiência de jogo não se venha a tornar algo repetitiva e estagnada.

Futuro

Como já referimos, há claramente um atento detalhe à herança deixada pelo filme de 1987 e a esperança que a Illfonic não fique por aqui em termos de expansão do jogo. Nesse sentido, o estúdio norte-americano referiu em comunicado que continuará a lançar novos conteúdos, tendo já um roteiro com datas preparado mas ainda não divulgado. Estima-se que o primeiro DLC, que será gratuito, chegará em pouco mais de um mês. Para já, a Illfonic lançou um patch destinado a melhorar o desempenho do motor do jogo e a corrigir alguns bugs. Seria bom poder ver, de futuro, novos modos ou a opção de aumentar o número de elementos de cada lado, talvez com dois predadores a competirem entre sim e uma Fireteam alargada para sete ou oito membros. Em termos de novos mapas, saudar-se-ia uma localização urbana ao estilo de ‘Predador 2’, talvez também contando com a presença licenciada do tenente Mike Harrigan, imortalizado por Danny Glover nesse mesmo filme. Outra desejo que corre nas redes sociais seria o de trazer o Xenomorph da saga ‘Alien’ para o jogo mas esse parece mais difícil de concretizar. Embora as duas franchises pertençam agora à casa-mãe Disney, incorporar uma outra icónica criatura (e em termos de licenças, outra propriedade intelectual fortíssima) esvaziaria a importância da figura titular. Talvez como personagem não jogável de alguma forma mas muito dificilmente em paridade com o Predador. Veremos o que futuro trará a um jogo “sem tempo para sangrar”.

Originally published at https://oitobits.io on April 27, 2020.