Filme: ‘Doidos à Solta’ – Dumb and Dumber (1994)
Lloyd Christmas (Jim Carrey) e Harry Dunne (Jeff Daniels) são dois amigos inseparáveis a quem as coisas correm sempre mal. Trabalhando como motorista, Lloyd conduz ao aeroporto uma jovem e bela mulher, Mary Swanson (Lauren Holly), e apaixona-se de imediato por ela. No entanto, a única coisa que lhe resta dela é uma mala esquecida no átrio do aeroporto. Lloyd é, entretanto despedido, acontecendo o mesmo ao seu amigo Harry. Completamente falidos e perseguidos por dois estranhos que eles pensam serem cobradores da companhia de gás, resolvem partir em direcção a Aspen, no Colorado, em busca do grande amor de Lloyd para lhe devolverem a mala.
O guião original, ainda que incompleto, foi escrito pelo veterano realizador de comédias John Hugues, que o vendeu a Peter e Bobby Farrelly. Após elaborarem o argumento de um episódio da conhecida sitcom ‘Seinfeld’, os dois irmãos procuravam a estreia como realizadores de uma longa-metragem e a oportunidade chegou pela mão da New Line Cinema, que se interessou pela ideia do guião, entretanto reescrito e completado pela dupla com a contribuição de Bennett Yellin. Os produtores Brad Krevoy e Steve Stabler recomendaram o canadiano Jim Carrey para o papel de Lloyd mas os irmãos Farrelly não o conheciam, tendo ficado convencidos após um visionamento de ‘Ace Ventura - Detective Animal’ (1994). Para interpretar Harry, Nicolas Cage foi a primeira escolha mas exigências financeiras do actor levaram a New Line a contratar Jeff Daniels, até então conhecido por papéis mais ligados à área do drama.
Há comédias que disparam piadas para todos os lados e acertam muito pouco (ou até mesmo nada). Há outras que conseguem divertir, mas deixam algum espaço entre as gargalhadas que causam. E há aquelas que fazem o espectador divertir-se constantemente durante a sua história, por mais imbecil que a dupla protagonista seja. ‘Doidos à Solta’ encaixa-se neste último tipo e o seu sucesso deu origem a uma série de animação do mesmo nome em 1995, uma prequela chamada ‘Doidos à Solta: Quando Harry conheceu Lloyd’ (2003) e uma sequela de nome ‘Doidos à Solta, de Novo’ (2014), que trouxe de volta Carrey e Daniels mas que desapontou em comparação com o humor transgressivo do original.
A carreira dos irmãos Farrelly continuaria “de vento em popa” com o sucesso de ‘Doidos por Mary’, de 1998 e várias outras comédias nos anos seguintes, incluindo nova colaboração com Jim Carrey em ‘Ela, Eu e o Outro’ (2000) mas ‘Doidos à Solta’ continua a ser o meu filme preferido da dupla (apesar de apenas Peter estar creditado como realizador). Vi-o pela primeira vez quando aluguei uma cópia em VHS num clube de vídeo e lembro-me de, juntamente com o meu irmão do meio, puxar algumas vezes a fita atrás para rever as cenas e piadas que mais nos fizeram rir.
Série: ‘South Park’ (1997-)
‘South Park’ é uma série norte-americana de animação criada em 1997 para o canal Comedy Central pela dupla Trey Parker e Matt Stone. Destinado ao público adulto, o programa tornou-se alvo de debates pelas suas críticas através de humor negro, cruel, surreal e satírico que abrange uma série de assuntos. A narrativa padrão gira em torno de quatro crianças — Stan Marsh, Kyle Broflovski, Eric Cartman, e Kenny McCormick — e as suas aventuras bizarras na pequena cidade fictícia de South Park, situada no estado do Colorado.
Parker e Stone, que se conheceram na universidade, desenvolveram a série a partir de duas curtas de animação, ambas intituladas ‘The Spirit of Christmas’, criadas pela dupla de amigos em 1992 e 1995. Para diferenciar os dois filmes, o primeiro passou a ser chamado de ‘Jesus vs. Frosty’, e o segundo, ‘Jesus vs. Santa’. A segunda produção tornou-se um dos primeiros vídeos virais da internet, o que acabou por levar ao desenvolvimento da série. ‘South Park’ estreou em 13 de Agosto de 1997, obtendo êxito instantâneo e alcançando posteriormente as maiores audiências da televisão por cabo nos Estados Unidos. Apesar de inconsistente nos seus índices de audiência, o programa permanece como a atracção mais aclamada e duradoura do Comedy Central. Originalmente produzido através de animação de recortes, cada episódio é actualmente realizado em um software que reproduz o estilo característico da série.
“Todos os personagens e eventos desta série - mesmo aqueles baseados em pessoas reais - são totalmente fictícios. Todas as vozes de celebridades são representadas... pessimamente. O seguinte programa contém linguagem grosseira e devido ao seu conteúdo não deve ser visto por ninguém.” Este é o aviso e apelo irónico que abre cada episódio de ‘South Park’ e que claramente não foi e continua a não ser respeitado pelas audiências televisivas um pouco por todo o mundo, com a série actualmente a contar com 325 episódios, 26 temporadas e a promessa de que manter-se-á no ar até, pelo menos, 2027. Para além disso, o programa de animação já deu origem a vários videojogos e a uma longa-metragem de 1999, intitulada em Portugal simplesmente como ‘South Park’ – O Filme’, que contou com vozes adicionais de várias celebridades como George Clooney, Minnie Driver ou Eric Idle, dos lendários Monty Python.
Quando ‘South Park’ chegou ao pequeno ecrã, já ‘Os Simpsons’ tinham quebrado o paradigma de que as séries de animação não se destinavam só a um público mais juvenil. Mas se a criação de Matt Groening, com toda a sua sátira social, podia ser vista por toda a família, com ‘South Park’ talvez não seja tão aconselhável aos mais jovens. Pessoalmente, comecei a preferir o tipo de humor mais arrojado da série criada por Parker e Stone logo que vi os primeiros episódios na televisão, transmitidos em Portugal através da SIC Radical, e ‘South Park’ – O Filme’ foi mesmo um dos primeiros DVD que comprei.
Álbum: ‘Get a Grip’ – Aerosmith (1993)
Fundados no longínquo ano de 1970, os Aerosmith são uma das bandas de rock mais antigas ainda em actividade. Originário de Boston e resultante da fusão entre as bandas Chain Reaction e Jam Band, o grupo consiste no vocalista Steven Tyler, guitarrista principal Joe Perry, baixista Tom Hamilton, baterista Joey Kramer e no guitarrista rítmico Brad Whitford, o único membro não fundador mas que se juntou aos restantes logo em 1971. Com um estilo musical enraizado nos blues e hard rock mas que ao longo da carreira de mais de cinco décadas já incorporou elementos de pop rock, heavy metal e mesmo R&B, os Aerosmith são uma das bandas que mais vendeu em todo o mundo, com cerca de 150 milhões de discos vendidos e todo o tipo de prémios conquistados.
Após as boas prestações ao vivo lhes garantirem um contrato discográfico com a Columbia Records, os dois primeiros discos foram bem recebidos mas foi ao terceiro álbum que os Aerosmith se estabeleceram como estrelas internacionais, competindo com os britânicos Led Zeppelin ou Rolling Stones. Originalmente apontados por alguns como uma espécie de imitação destes últimos (até pelas parecenças físicas entre Tyler e Mick Jagger, dos Stones), os Aerosmith lançaram ‘Toys in the Attic’ em 1975 e o sucesso foi imediato, muito por força dos singles ‘Sweet Emotion’ e a versão original de ‘Walk This Way’, que na década seguinte estaria novamente no topo das tabelas através de uma parceria com os Run-DMC. Seguiu-se ‘Rocks’ (1976), um álbum que influenciaria reconhecidamente várias outras bandas como os Guns N' Roses, Metallica ou Nirvana, mas os anos posteriores foram marcados pelos problemas com o abuso de álcool e drogas e a saída temporária da banda por parte de Perry e Whitford.
‘Permanent Vacation’ (1987) e ‘Pump’ (1989) representaram o regresso à boa forma dos Aerosmith, já novamente com o quinteto “clássico”, e a entrada em grande nos anos 90 dar-se-ia através de ‘Get a Grip’, o primeiro álbum dos norte-americanos a atingir o topo da Billboard logo na sua primeira semana de vendas. Apesar das significativas mudanças no panorama musical (como, por exemplo, a emergência do grunge), o 11º álbum de estúdio dos Aerosmith afirmou-se pelo hard rock e tornou-se mesmo o mais vendido de sempre da banda, produzindo os singles ‘Livin' on the Edge’, ‘Eat the Rich’, ‘Shut Up and Dance’, ‘Cryin'’, ‘Amazing’ e ‘Crazy’. Estas três últimas power-ballads e os seus respectivos videoclipes, com a presença de jovens actrizes como Alicia Silverstone e Liv Tyler, filha do vocalista, tiveram frequente rodagem na MTV e ajudaram a promover ainda mais o álbum. ‘Nine Lives’ (1997), o trabalho de originais seguinte, não conseguiu superar o seu antecessor mas, ainda assim, assegurou que a banda de Boston se mantivesse no topo das tabelas.
O meu primeiro contacto com a música dos Aerosmith foi através do álbum ‘Pump’, que o meu irmão mais velho trouxe para casa em cassete após um amigo lhe ter feito uma cópia. Uns anos mais tarde, o mesmo irmão compraria o CD de ‘Get a Grip’, o que nos entusiasmou a todos. Mais do que a excentricidade da banda, com uma das faixas a abrir com um arroto e a capa do CD a mostrar um brinco colocado na teta de uma vaca, foi a sonoridade do álbum que nos conquistou, equilibrado entre canções de puro rock como a minha favorita ‘Eat the Rich’ ou ‘Fever’ e baladas “orelhudas” tais como as muito badaladas ‘Cryin’ e ‘Crazy’. Não existir uma faixa que nos fizesse querer passar à frente é um bom sinal da solidez do álbum.
Videojogo: ‘European Club Soccer’ (1992)
Em ‘European Club Soccer’, o objectivo do utilizador é levar o seu clube de futebol a vencer a Taça dos Campeões Europeus, a competição precursora da actual Liga dos Campeões. Para além do modo principal, também é possível efectuar jogos amigáveis (de diferentes dificuldades e duração) com e contra qualquer das cerca de 170 equipas disponíveis por toda a Europa. Cada país tem, pelo menos, dois clubes de futebol à escolha e todos os nomes dos mesmos estão correctos, com os emblemas parecidos e os equipamentos reconhecíveis e com apenas a designação dos jogadores a ser fictícia.
Desenvolvido pela britânica Krisalis Software e distribuído pela Virgin Games, o jogo foi lançado em 1992 exclusivamente na Europa e somente para a Mega Drive e veio suprimir a falta de um título no mundo dos videojogos em que fosse possível jogar (e não apenas em “modo treinador”) com clubes de futebol, ao invés das tradicionais selecções nacionais. Na verdade, a Krisalis já o havia feito no ano anterior com ‘Manchester United Europe’ mas a escolha de equipa (para controlar no terreno de jogo ou apenas treinar) ficava limitada aos Red Devils. ‘European Club Soccer’ alargou sobremaneira a escolha, permitindo aos milhões de fãs de futebol europeu poder jogar com a sua equipa de eleição.
Se os gráficos, música e opções merecem elogios e eram algo pouco visto na altura do seu lançamento, a jogabilidade deixa algo a desejar. Funciona apenas com dois dos botões do comando: "B" é usado para passar a bola rasteira e "C" para um passe por alto. Um botão para rematar não está atribuído mas se “B” ou “C” for mantido pressionado, quando solto a bola vai a uma velocidade muito maior. O botão direcional também pode ser usado para dar o toque final em bolas colocadas e mudar de direcção ou tocar a bola para trás com o calcanhar em passes rasteiros. Opcionalmente, o botão "A" pode ser usado para trocar para o jogador mais próximo, caso a opção automática esteja desactivada.
A primeira vez que ouvi falar de ‘European Club Soccer’ ainda nem tinha Mega Drive e já a ideia de poder jogar com o meu clube do coração (ou com outros clubes tão grandes como os maiores da Europa) me fascinava. Já o tinha feito ao editar equipas em jogos do ZX Spectrum (por exemplo em ‘Emlyn Hughes International Soccer’, de 1988) mas não era a mesma coisa. Pude finalmente saciar a curiosidade quando o meu primo alugou o jogo por uns dias numa loja de um centro comercial. E se a variedade de escolha de clubes era um regalo para a vista (Portugal estava representado pelos “Três Grandes”, o Belenenses e o Vitória de Guimarães), quando o árbitro apitava e ouvia-se Kick off (ou “Cacau”, como realmente parecia soar), a jogabilidade desiludia. As bolas colavam aos pés e os remates era fracos e muitas vezes os guarda-redes simplesmente deixavam passar a bola, o que originava constrangedores “frangos”.